A morte não é triste.
O triste é que a maioria das pessoas não vive nada.
Peaceful Warrior
Parou-te o cérebro? Pára de olhar feita parva para esse corpo sem vida. Acorda que as outras vidas não esperam.
É preciso mexeres-te, há mais doentes lá fora, e as outras vidas não se compadecem com o teu tempo, o teu compasso de espera. Tadinha. Ninguém quer saber o que sentes, ou como te sentes, se estás frágil ou carente, triste ou doente, se tens problemas de merda ou se as palavras de ânimo que esperavas não vieram, e nem sequer o que comeste ontem ao jantar. Problema teu. Daqui a pouco chega outro doente, já recebeste o aviso do codu, segue, mexe esse cu, não te ponhas com merdinhas de menina mimada e medrosa perante a morte. Sabes bem que a vida é assim, que a maior parte das vezes a vida acaba aqui à tua frente e desta forma, sem subterfúgios, directa, dura. Sem te perguntar - Dá licença, posso entrar? O que estranhas? O que há de novo? Onde está o problema? As férias fizeram-te mal, queimaram-te a moleirinha, amoleceram-te o coração, fizeram-te pensar que o mundo era um lugar justo e o fim da linha só chegava depois de uma vida cheia, e terminava como deveria ser, no fim de tudo como seria o jogo correcto. Mas raramente é, e tu sabes muito bem isso. Desaprendeste?
Não entendo o que se passa comigo. No peito sinto um aperto, onde pensava que tinha um coração forte e empedernido capaz de resistir a tudo e preparado para todos os embates, embrulhado numa armadura de aço e cheio de defesas, afinal mora um bocadinho de carne fraca, miserável, que se arrepia com a dor, que se contrai com a proximidade da morte, que não serve para nada e que dava-me jeito substituir. Julgo-me preparada para tudo, tenho um manto de invencibilidade que me cobre, capaz de afastar todos os dramas, espero sempre o pior, mas secretamente aguardo que a vida faça das suas e me surpreenda oferecendo-me o melhor. Fico desiludida quando não o faz. Continuo sempre à espera de ver acontecer magia e talvez seja a mulher adulta que mais projectos constrói na fábrica dos sonhos. É algo muito meu. Muito mau eu sei.
Não entendo o que se passa comigo. No peito sinto um aperto, onde pensava que tinha um coração forte e empedernido capaz de resistir a tudo e preparado para todos os embates, embrulhado numa armadura de aço e cheio de defesas, afinal mora um bocadinho de carne fraca, miserável, que se arrepia com a dor, que se contrai com a proximidade da morte, que não serve para nada e que dava-me jeito substituir. Julgo-me preparada para tudo, tenho um manto de invencibilidade que me cobre, capaz de afastar todos os dramas, espero sempre o pior, mas secretamente aguardo que a vida faça das suas e me surpreenda oferecendo-me o melhor. Fico desiludida quando não o faz. Continuo sempre à espera de ver acontecer magia e talvez seja a mulher adulta que mais projectos constrói na fábrica dos sonhos. É algo muito meu. Muito mau eu sei.
Dei-lhe murros e murros no peito, espetei-lhe agulhas onde podia, tubos em sítios inimagináveis, uma e outra vez, sem hesitar, sem contemplações. Já em desespero de causa gritei-lhe - porra não faças isso, fica, tens que ficar. Não desistas. E sei que ele me ouviu. Não quis, gozou com a minha cara, olhou-me ainda nos olhos de forma desafiadora antes de se deixar ir e fez valer a sua escolha. Era mesmo esta. Lutei contra a vontade dele durante meia hora, só meia hora, pufff, não consegui lutar mais, sou uma fraca, uma porcaria que não é capaz de levar a sua avante, habituada a desistir perante a evidência de grandeza dos desafios... e a perder.
Ainda não vos disse mas nas minhas lutas pessoais, na vida e na morte, invariavelmente perco sempre.
São coisas...
São coisas...
"Julgo-me preparada para tudo, tenho um manto de invencibilidade que me cobre, capaz de afastar todos os dramas, espero sempre o pior, mas secretamente aguardo que a vida faça das suas e me surpreenda oferecendo-me o melhor. Fico desiludida quando não o faz. Continuo sempre à espera de ver acontecer magia e talvez seja a mulher adulta que mais projectos constrói na fábrica dos sonhos. É algo muito meu."... Pssst... eu vou contar-te um segredo através de quatro palavras: É algo muito NOSSO!
ResponderEliminarEu não tenho grandes medos mas tenho que é enorme: tenho medo da doença, do sofrimento, da incapacidade, da vulnerabilidade... no fundo, da morte.
PS: ó miúda, claro que és forte, porque se não fosses... não te aguentavas no teu trabalho!
Gata: Eu tenho medos. Tenho muitos até, combato-os de forma a que não me sufoquem, não deixo nunca que me atrapalhem a vida. Ainda ontem tive um teste de medo. Tinha que atravessar um aqueduto a quase 20 metros de altura sobre um piso de pedras meio arredondado e com 30 cm de largo, a coisa correu bem até meio, quando cheguei quase a meio comecei a tremer e a ter a sensação que ia cair e se caísse a coisa ia correr mesmo muito mal, tive tanto medo, mas ali não havia alternativa. Voltar para trás não podia porque havia gente atrás de mim e não passávamos dois ao mesmo tempo, ( e a altura mantinha-se), tinha que seguir em frente. Parei... respirei, tentei não entrar em pânico, controlei o medo, proibi-me de olhar para baixo e apenas em frente, e segui até ao meu destino, só faltavam uns 5 metros... e consegui. No final tive orgulho em mim, em ter conseguido lutar contra o meu medo.
EliminarÉ de pequenas vitórias que se fazem as grandes vitórias.
Não dá para lutar muito mais do que fizeste contra a vontade de quem não quer, só dá para ajudar até certo ponto porque depois são os outros que têm deixar que os ajudemos. Por vezes não dá, é uma merda mas é assim :(
ResponderEliminarPM: Quando alguém quer muito morrer, sabe como o fazer... e sim, nessas alturas não há como dar a volta à situação por muito que se queira.
EliminarBeijinho Pm
fêmea, feminina, felina, felicidade, fascinante, fagulha, feromonas, físico, felação, fala, falo, foda, folga. Este texto podia ser um poema do Fernando Grade ou do Almada Negreiros ou até do Fernando pessoa ou por último da Natália Correia que foi mais poeta que os outros todos :)
ResponderEliminarOs teus textos sobre a profissão são os melhores, Eram. Depois de ler este dou a mão à palmatória. Gostava de escrever um livro contigo :)
um abraço
joaquim
Joaquim: Escrevo por prazer, não escrevo sempre bem, não digo sempre coisas com sentido, não falo sempre do que é socialmente correcto dizer-se... falo do que me apetece, como me apetece e da forma como na altura me quero exprimir. Ter um blog é isto, escrever ao sabor da vida e ao ritmo dos acontecimentos. Umas vezes feliz, outras triste. Mas sim.... adoro escrever. E preciso da escrita para aliviar a alma.
EliminarBeijinhooooo
Obrigada pela simpatia.
Todos nós temos os nossos altos e baixos e tu acabaste de ter um baixo. Apesar da tua faceta de forte também és humana e tens sentimentos, sentimentos bons, não tens de ser sempre fria...
ResponderEliminarAbracinho minha enfermeira preferida!
SuperSónica. Tenho medos... e no meio do que no local de trabalho tenho que "aparentar" - ser forte - fora daí tenho inseguranças e medos que me acompanham... Tenho medo de perder, tenho um medo terrível da doença, tenho medo de sofrer.
EliminarBeijinho futura mamã.