quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Parado ou em marcha atrás... Isto parece que anda, mas não anda lá muito bem.


Contact - Imagens do fotografo italiano Gabriele Basilico

Sei todos os ângulos de ir, mas vivo no lugar de quem fica.
Tati Bernardi


São onze da noite. Fecho a porta do carro com o joelho e arrasto-me pela rua fora, de socas, ainda fardada e com a mala ao ombro, a garrafa de água entalada entre o braço e o corpo, o saco com a roupa da rua na outra mão, a lancheira no outro ombro e o livro que ando a ler na mão. É muita coisa para uma mulher só. Pesam-me as coisas e pesa-me o cansaço de mais um dia que foi gigante. Interminável. Até chegar a casa começa a chover. Corro, mas não  o suficiente para não sentir a chuva que cai em catadupas nos meus braços em manga curta, pelos buracos das socas, no cabelo que ganha um novo look "de colado à cabeça" e nas pernas das calças finas que se prendem às pernas.

Chego finalmente à entrada do prédio. Vasculho a mala e lá encontro a chave. Porque será que demoro sempre uma eternidade a encontrar a chave? Fico mais molhada ainda. Mas já não estranho. Sabe-me bem. Gosto de chuva. Sempre gostei. E do cheiro da terra molhada. Vejo o correio. Instintivamente. Por hábito. Só chegam contas, e cada vez menos desde que aderi às facturas electrónicas. E nunca me lembro de ter recebido uma carta pessoal que fosse. Tenho pena. O meu amor podia-me escrever. Mas não escreve!

Subo os primeiros lances da escada e sinto o cheiro a bifes com batatas fritas no rés do chão, deve ter sido o jantar. Chamo o elevador. Espero e oiço o vizinho do primeiro andar falar alto e dizer umas palavras azedas com alguém de voz feminina. A mulher? Finalmente o elevador chega, carrego para o 8º andar. Vivo perto do céu, onde o azul à minha volta quase que se pendura na minha janela e o verde dos montes em redor confere-me paz e liberdade. A vizinha do lado jantou peixe frito com qualquer coisa. Sinto-lhe o cheiro. Não gosto de peixe frito. Não gosto de cheiros a comida.

Pouso a tralha que trago agarrada a mim e dispo-me de imediato. Não me sinto mais leve. Largo a minha segunda pele em formato hospitalar e rendo-me à primeira. Aquela que é apenas minha e de mais ninguém. Ao meu corpo, ao meu cheiro, à minha vida. Abraço o meu corpo. Apetecia-me tanto um cigarro. Eu que deixei de fumar há tantos anos. As lágrimas escorrem-me pela cara abaixo teimosamente. Que raio de dia. Sinto a falta de quem um dia amei mas relembro-me mais uma vez que não posso ficar agarrada ao passado. 

Vou tomar duche. O duche ajuda a lavar as lágrimas, mistura-se o sal da água com o sal da vida.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Eu a quebrar recordes pessoais desde mil novecentos e troca o passo...


D.A.M.A. ao vivo.
Foto ranhosa tirada com o meu telemóvel.




Comecei a minha árdua semana no Domingo passado com 12 horas seguidas de trabalho. Depois saí e fui com amigas ver o brutal concerto dos Dama e o incrível fogo de artificio - mais de 20 minutos de espectáculo. Vim de lá divertida e feliz.

E a semana vai continuar assim... Segunda 12 horas, Terça 12 horas, Quarta 12 horas, Quinta 12 horas, Sexta 12 horas, Sábado 12 horas e Domingo 18 horas.
Esta semana para mim tem 102 horas de trabalho. 
Não penso muito no número se não assusto-me e morro já aqui.

Na verdade estou viva ainda. Mas hoje ainda é terça feira e ainda não vou nem a meio da semana. Quero muito chegar ao fim disto tudo, ver o fundo ao tacho para poder gozar uma folguinha pequenina, só uma, e chegar viva, fresca e fofa ao fim de semana de dias 10 e 11 de Setembro, que vou ter livres para ir a Espanha - Cárceres e Mérida - trilhar em mais uma aventura de gente doida. 

E pelo meio... ainda quero muito ir com as minhas amigas ver na quinta feira à noite o concerto dos HMB. Sou louca sim, eu sei, mas lá pelo facto de trabalhar muito não posso permitir que isso não me deixe viver. Há pessoas a quem o trabalho faz tropeçar a vida. A mim não. Tenho muito tempo para dormir quando morrer. Sei que depois estendida e de olhos fechados vai ser só descanso!

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

A minha vida agora é a primeira página do Correio da Manhã só que em tempo real...






- Então como correu a tua noite ?
- Um assalto na Bomba de Combustíveis da rotunda de X, levaram só 600 euros mas vai dar um trabalho do catano. Logo pouco depois, às 3 da manhã, despiste e capotamento de uma viatura ao km tal na autoestrada X, sinalização do local e activação de medidas de segurança, duas horas nisto e mais quatro folhas de ocorrências. Saí de lá às tantas. O ferido foi para o hospital X. O resto do filme não sei.
- Sei eu. Era um fulano assim assim não era? Veio desse hospital para nós. Acusou uma taxa de alcoolemia de 2.4 sabias? Os teus camaradas da Brigada de Acidentes vieram recolher a prova.
- E a minha noite ainda não acabou, quando finalmente estava a preparar-me para descansar as botas, um sacana de um gajo desatou a bater numa miúda à porta de um bar e o segurança chamou-nos. Já eram para lá das 6 da manhã estava a ver que a coisa ia dar para o torto. O gajo era teimoso e foi detido. Estou cansado. Preciso dormir.
- Também estou cansada, tive 6 reanimações esta noite e dois traumas. O calor anda a dar cabo dos velhotes todos. O meu doente mais novo entrado hoje tinha 78 anos, a partir daí foi sempre a subir.

- Embora amor. Deixa isso e vamos dormir.
- Sim pá. Vamos dormir.

E a minha vida agora é isto... noticias ao minuto e muito soninho!

blá blá blá entre amigas...





- Não o amo. Sabes como sou Rita... amar não vai ser fácil, ainda é aquela coisa dolorosa e quase impossível.

- Não te preocupes muito com isso. Vive apenas. Conseguires amá-lo é trabalho dele. Vai depender unicamente do esforço dele em te querer muito, pouco, ou nada.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

É surda ou quê?




- São 2 g de Cefazolina ev para esta doente.
- Como?
- São 2 g de Cefazolina ev para esta doente.
- 2g?
- Sim mulher! Irra que é preciso repetir vinte vezes. 
- Tem a certeza Doutora M.?
- Sim! Você cansa-me.
- Tem mesmo a certeza?
- Você é surda ou quê? Eu repito: São 2g de Cefazolina ev! 
- A senhora é que é a médica, mas lembro-lhe que a doente só tem 45 quilos. 
- Ah... Desculpe. Então faça só um grama!

E a minha vida é isto...

*Oiça tudo com mini som!

sábado, 20 de agosto de 2016

Fins de tarde...

O meu fim do dia

Nove da noite. O sol já se põe. Permanecemos ainda na praia. Quilómetros feitos à beira mar, intercalados com beijos e gargalhadas. E ofensas minhas, várias... És mesmo parvo. Idiota pá. Nunca te chamaram otário? Tanto tamanho e tão pouco juízo. Risos. Mãos entrelaçadas.  Cai a noite e o frio. Chegam as redes do peixe, respira-se o cheiro a mar e a pescado acabado de chegar. O vento assobia com força. Despenteia-me. Perdes tempo com a ponta dos dedos a retirar-me cada farripa colada à cara. Penteias-me suavemente com as mãos a tentar alinhar o que o vento descompõe. E eu... 

Eu naquele segundo, fecho os olhos e acredito que talvez seja isto que me faltava.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Por mais voltas que dês...




- Já viste que por muitas voltas que dês escolhes sempre o mesmo tipo de homens?
- Como assim? Não percebo.
- São todos iguais. Têm todos os mesmo cabelo, o mesmo corpo, e fazem todos a mesma coisa. Repara lá bem.
- Pois é. Tens razão. Não tenho culpa. Nunca tinha reparado nisso. São os que me despertam interesse.
- São todos iguais. Igualzinhos. Tens que sair desse formato, já viste que não resulta.
- Agora ando interessada num buéee da giro que é qualquer coisa num Ministério. Vou-lhe perguntar.

Umas horas depois lado a lado em amena cavaqueira numa caminhada...

- Então a Patrícia disse-me que és do Ministério da Administração Interna. Que fazes lá?
- ... riso.
- É pah não me digas que não podes dizer. É segredo? Ok, és ministro.
- ... riso. Não sou ministro mas mando alguma coisa.
- Então se mandas e não és ministro, não me digas que és secretário de estado!
- Também não. Mas continuo a dizer que mando alguma coisa.
- Mandas... mandas vir copos de água, toalhas de papel.
- Também não. E não gosto de dizer o que faço.
- Diz lá, vá lá Sr Ministro... eu prometo guardar segredo. (eu a fazer uma cruz com os dedos sobre os lábios)
- Sou do Núcleo de Investigação Criminal da *Gnr.
- Medoooo! Já dei para esse peditório. Ó pá de ti quero distância.
- Não sei minha menina se tal a partir de agora vá ser possível... risos


Cada tiro cada melro. Por mais voltas que dê, a minha vida é uma rotunda.

Mais uma etapa neste meu ciclo de vida...

...



















A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e de fúria, sem sentido algum.

William Shakespeare


Começa aqui uma nova etapa de vida. Mais um ciclo. Talvez por ironia do futuro, das muitas coincidências de que é feita a minha vida, haja aqui e ali pormenores que parecem iguais. Não são. Há outra personagem, há só em comum a mesma profissão. É azar eu sei... Já é a terceira vez que este mesmo filme se repete. Mas vou acreditar que à terceira é de vez. E que é desta que a personagem não morre no fim, não há funerais, nem choro, nem lágrimas a fio, e a totó da miúda apaixonada não aparece nas festas com o pote das cinzas do defunto debaixo do braço, a lembrar-se de tudo o que viveu mas a afirmar de cabeça erguida que está a tentar esquecê-lo.

Claro que a parva da miúda de vez em quando faz mentalmente comparações, e analisa minuciosamente detalhes da nova personagem, e sente medo e uma tremenda insegurança com isto tudo, mas está disposta a apostar neste novo ciclo e a lutar por ele. Por alguma razão esta "impossível" - altamente improvável coincidência, aconteceu. Não há acasos, acredito que no fim há unicamente a vida.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Inteligência em demasia parece que atrofia... até rima e tudo!

Jesse Owens contra Hitler.

Fotografia feita em 1936 durante os Jogos Olímpicos de Berlim. O atleta norte-americano, negro - Jesse Owens - ganhou quatro medalhas de ouro, contrariando o desejo de Hitler de mostrar a supremacia branca. A fotografia da cerimonia é uma das mais emblemáticas da história do desporto. Fotografia: Associated Press


Ser inteligente é bom. Pelo menos os entendidos dizem que sim, eu ainda não o comprovei pessoalmente, mas adiante. E toda a gente sabe que ser mesmo muito inteligente deve ser melhor ainda. Só que não. Parece que não é. No meu percurso de vida cruzei-me em algumas situações com gente realmente muito inteligente, capaz de arrasar a melhor das teorias, capaz de aniquilar o melhor dos argumentos, ou capaz de me reduzir à insignificância no melhor dos diálogos, sim, tudo isto verdade, mas comprovo também que pessoas muito inteligentes roçando a genialidade têm tendência a um egocentrismo exagerado, quase doentio. Vivem para o culto do eu; eu tenho razão, eu sou melhor, eu sei, eu mando, demonstrando por isso pouca tolerância para  com os outros, pouca empatia, isolando-se do exterior e vivendo em êxtase com o ego.

A maior parte das vezes recorrem à crueldade para espezinhar quem os rodeia, afastam-se com arrogância e desdenham da amizade ou lealdade que lhes é oferecida e transformam-se rapidamente em seres demasiado egoístas, manipuladores, vingativos, desprovidos da capacidade de se relacionarem com os outros, de aprenderem qualquer coisa com os menos inteligentes ou virem sequer a sentir culpa pelo seu comportamento.

Tenho uma teoria. Só minha. Idiota qb, e que vale o que vale. Como somente os idiotas têm certeza de tudo e garanto-vos, digo isto com certeza absoluta. Demasiada inteligência aniquila o lado sensível, colorido e emocional do ser humano. Torna os génios, racionais, focados, apáticos para o exterior, bloqueados para a vida e para os outros, gente sozinha e infeliz.

Sempre orgulhosamente e inteligentemente sós!

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Como culpar o vento pela desordem feita, se fui eu que esqueci as janelas abertas? (frase retirada da Internet)





Gostei de ti quando me apresentaste o teu livro de poemas publicados e construíste um poema para mim. Gostei de ti quando li, sorvi o teu livro ainda por publicar e acabar. Gostei mais de ti ainda quando deitaste por terra o mito parvo, que letras, sensibilidade e farda de autoridade não combinam. Gostei de ti quando me apresentaste a neve e os Alpes e me deixaste adormecer todos os dias nos teus braços num abraço. Gostei de ti quando adormecíamos todos os dias com sexo e despertávamos de manhã já com fome um do outro. Gostei de ti quando dançámos em coreografias desenhadas e voei em piruetas pela sala. Gostei de ti quando conheci o primeiro homem que adora dançar. Gostei de ti quando me levaste pela primeira vez ao futebol. Gostei de ti quando me conduziste pelas estradas que não existiam à descoberta dos Açores. Gostei de ti quando nos rimos lado a lado a andar de baloiço. Gostei muito mais de ti quando o meu prazer era muito mais importante que o teu prazer e o nosso arrojo e audácia desafiavam regras. Gostei de ti quando te preocupavas em saber se eu descansava, se comia, se estava bem e era feliz. Gostei demasiado de ti quando esperei que o dia que era nosso fosse mesmo nosso.

O que gostei em ti, procuro e não encontro. Perdeu-se algures. 
Gostei de ti. Agora já não gosto.


sábado, 13 de agosto de 2016

Cara de quem vive...


Bansky


Gosto das pessoas que têm cara de quem vive. E isso não tem a ver com beleza. Normalmente, as pessoas que eu acho atraentes não são bonitas, têm um charme lento, que eu não sei explicar.
António Lobo Antunes
Eu vivo. E tu vives?

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Pedaços do meu mundo...

Ponte Vasco da Gama - Foto (espectacular) de Manuel Adrega

E eu, e tu,
perdidos e sós,
amantes distantes,
que nunca caiam as pontes entre nós.

Pedro Abrunhosa.


Hoje vai ser por aqui

Ao acaso...





O amor não é parvo mas deixa-nos mole.
Nunca te culpes por amar.

(de uma amiga)

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Perdidos e achados...






Perdeu-se algures um coração por aí, num lugar onde por engano nunca devia ter estado. Um terrível erro de localização. 

No lugar onde ele existiu resta nada. Mas nada é bom...
Deixa espaço livre.

sábado, 6 de agosto de 2016

Saia...



E ela seguiu à risca o conselho.Tem saído todos os dias à noite.Tem colado os finais de noite às madrugadas. Tem somado conversas a imperiais, tem lavado a alma a desabafar, tem viajado pelo mundo dos sonhos com o que aí vem. E tem estado muito bem. Tem dado por si sem dar conta do tempo passar, sem se lembrar dos dias e das horas, e inacreditavelmente sem nunca olhar para o relógio. E os amigos já notaram isso.

Acredito que estou finalmente no caminho certo. No rumo que me propus. Tinha dado a mim própria como objectivo de tempo - final de Julho. Julho já lá vai mas não me parece que neste contrato adjudicado com o bom senso e a razão eu vá falhar muito para além do prazo. A empreitada está em conclusão. Quando sair finalmente do passado é para não mais regressar.

Tenho abusado dos vestidos. Tenho saído de dia. Tenho saído à noite. 
Tenho saído de mim.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Causa Mortis...




Traumatismo craniano fruto de mergulhos profundos em pessoas rasas.

( lido algures por essa Internet )

Mergulho no oceano infinito de pessoas. À superfície, a cor da água e o embalar doce da ondulação entorpecem-me os sentidos. Oiço mas não escuto, olho mas vejo só o que quero ver. Não sinto nada.

Evito mergulhos profundos com medo de sentir. Na profundidade há o silêncio, a escuridão e a ausência. 

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Up & down...



Desço para baixo ou subo mais para cima? Assim mesmo em pleonasmo que a vida é feita do reforço intenso de ideias. Para baixo todos os santos ajudam, certo? Ou é para cima? Ou há pessoas que nunca têm direito a ajuda e o melhor que têm a fazer é nunca colocarem questões de merda pelo caminho? 

Porra, a minha vida é só dúvidas. Ainda não percebi quando é que a intervenção dos santinhos se aplica!

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Pelos píncaros dos céus...




É pá isto vai para aqui um fervilhar de ideias, de aventuras, sonhos para concretizar que nem sei que para lado me virar. Arrisco ou não? Mergulho de cabeça ou deixo passar esta carruagem? Vejo a vida passar ou desço daqui do alto tipo Kamikaze? 

Apenas duas coisas podem acontecer. Ou corre muito bem, ou corre mesmo muito mal. E agora? Pela primeira vez estou aqui neste limbo da indecisão sem saber ainda muito bem o que quero, mas já a saber muito bem o que não quero. O que por acaso é uma grande ajuda.

 Aqui não há meio termo. Ou é ou não é.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

ZzZzZz ...






ZzZzZz  não significa aqui a onomatopeia do sono. 

(espero eu). 

  Z - Man venha de lá então esse jantar.