sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Feliz 2017




Sejam  felizes.

Bye Bye 2016...





2016 foi um ano duro. Começou mal com uma separação logo em Janeiro, seguiram-se 36 dias de lágrimas que não consegui conter e uma dor no peito inexplicável. Senti-me tão perdida, tão magoada. Sem saber o que fazer. Fui à neve em Fevereiro com os meus amigos e fui feliz. Viajei em Março até à Polónia e risquei da minha lista um dos meus sonhos. Os meses seguintes seguiram-se, o tempo ajudou, dizem que cura tudo, não curou. A separação deixou de existir e voltámos a juntar-nos em final de Março não tão juntos como tínhamos estado, juntos com mazelas pelo corpo todo, mas juntos. Veio o Verão e as minhas férias no Algarve e o dia 31 de Julho, o nosso dia. Ele esqueceu-se. Disse-me que se esqueceu do dia, na verdade esqueceu-se de mim. E a partir daí tudo começou a ser posto em causa. Que fazia eu presa a uma pessoa e a uma relação para a qual nunca fui mais do que isso, uma relação. E o tempo corria, as semanas passavam e tudo continuava igual. Ele cada vez mais ausente, eu mais magoada, incapaz de perdoar o esquecimento... e o resto.

Depois chegou o fim do Verão e um Setembro magnifico. Comecei a abrir janelas, portas, e a deixar entrar o sol e vida nova. Entrou o sol, entrou um amigo dum amigo, uma personagem nova na minha vida e talvez a mais complicada e difícil das que já me apareceram, mas entrou algo mais que ainda não sei bem o que será mas que inclui amor, partilha, cumplicidade e projectos a dois. Ternura e muita vida em comum. E isso é tão giro. Estou a adorar. Não tem sido fácil empacotar vida, arrumar sonhos que construí e esquecer quem tenho quase a certeza que amei, embora eu não saiba amar ninguém. Estou a esforçar-me. Depois em Outubro chegou de mansinho o : vamos namorar miúda? Não quero uma cena contigo, quero que sejas a minha namorada! Dá-me uma hipótese, não desistas já de mim. E a vida foi-se compondo, ajeitando ao ritmo de duas pessoas com vidas agitadas, manias de solteiros, turnos e fins de semana cheios.

Em Dezembro aconteceu Berlim, juntos. Foi mágico sem ser perfeito. Tive perfeita noção das muitas arestas por limar, mas repetia tudo agora mesmo, pelas gargalhadas que dei, pela vontade com que ele me faz rir, pela cara dele ao descobrir cada coisa do mundo que existe lá fora, por cada beijo dado e abraço sentido ao adormecermos os dois. E porque fui imensamente feliz.

E agora para 2017?
Quero o mesmo que pedi em 2016, e em 2015, e em 2014... e desde que me lembro de pedir desejos. Quero para mim o que quero todos os anos, todos os dias do ano. Quero ser feliz. E desde que eu seja feliz não importa se quem me faz feliz é o X man ou o matraquilho azul, ou se vou de férias para o Algarve e ainda não é este ano que vou até Nova Iorque. Eu quero é ir. Eu quero é viver. Eu quero é ser feliz com o que a vida me dá. 

E sou.

Feliz Ano Novo!

Se não viram ainda... olha, vejam... que o filme é mesmo muito giro.




"Na vida somos todos passageiros desta viagem. 
Insatisfeitos com o que queremos muito fazer esquecemos-nos de viver o que há para viver."


Passengers


Escolheram ambos irem para um planeta recém criado que fica a 120 anos luz de distancia da Terra. Ao fim de 30 anos um dos passageiros acorda acidentalmente e percebe que lhe faltam 90 anos para chegar ao destino, local onde nunca vai obviamente chegar com vida. Só lhe restam 3 opções. Ou vive revoltado, ou vive feliz. Ou não vive sequer. Pelo meio muitas peripécias e a descoberta do amor. No final fica a mensagem para quem ao fim dos 90 anos que faltavam chegou finalmente ao destino. Faças o que fizeres e dê-te a vida as ferramentas que der, aproveita-as, vive, porque a vida vale sempre a pena ser vivida.

Adorei o filme. Uma grande lição de vida.

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Das coisas mais doces que ultimamente me disseram....





"Ontem ia muito bem na auto estrada em patrulha e passou por nós um carro igualzinho ao teu. Pareceu-me mesmo que eras tu. Acelerámos e ultrapassei-o. Afinal não era a minha menina, a minha pequenina que é maior que eu, era só uma gaja qualquer. Fiquei triste. Queria mesmo mandar-te parar só para te abraçar."

Tão fofo pá. Tanto tamanho, tanto músculo e físico num homem habituado a lidar com tudo o que é feio e mau (ou quase tudo) e um coração que se derrete como algodão doce, assim de doce que é.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Feliz Natal a todos...





Conselhos não se dão, mas os meus são de borla e aqui quem manda sou eu... por isso, deixo aqui três excelentes conselhos.

- Não dêem demasiado valor a picuíces e merdas que no somatório da vida não vão valer nada. 
ah porque o Manuel namorado da maior amiga ou da mãe ou o que quiserem não me ligou, ou porque a vizinha de cima nem bom dia diz, ou porque o carro avariou, ou porque vou stressar para estar lá a horas... isso são peanuts, tretas, merdas que atrapalham os dias mas não merecem ser valorizadas.

- Não desistam de se esforçar pelas vossas coisas boas, pelo que vos deixa felizes. É tentar todos os dias, é lutar, uns dias ganha-se, outros perde-se mas a vida é assim. O importante é não desistir de sonhar, acreditar em coisas boas e que o melhor está sempre para vir.

- E não deixem nunca de gostar de vocês. Gostar de nós é o principal. Sentir que se é importante, que apesar de todos os defeitos e limitações somos giras, sorridentes, capazes de dar de nós e ser felizes. Deixar de gostar de si mesmo é perder a auto-estima, cair em depressão, perder a vontade de sair, divertir-se, arranjar-se e cuidar-se... é meio caminho andado para o isolamento e para o abismo.

Por último... olhem, sejam mesmo felizes.

Bom Natal

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Tanta gracinha que ele tem...



Tu aí cheia de curvas.
E eu aqui sem travões!

Piropo Trolha

Eu a chegar ao hospital, a ir direitinha à velocidade de uma seta à sala dos cacifos pousar a tralha e preparar-me para fardar, e Sr Dr. Médico refastelado no cadeirão da sala de pausa a atirar piadolas à trolha em voz alta para o corredor:

- Sr Dr Médico Parvalhão - Que saia tão gira, fica-lhe tão bem e daqui até dá para lhe ver as cuecas.
...... 
eu a seguir caminho na minha vidinha sem lhe passar cartão. Surda como gosto.

- Sr Dr. Médico a insistir e mais alto ainda: Estou a dizer que vi-lhe as cuecas!
......

eu já em modo. És mesmo parvalhão de merda ou andas só a treinar?
Eu a voltar atrás: meter a cabeça pela entrada da sala de pausa e a dizer alto e bom som.

- Isso é impossível. Não trago cuecas.

Tudo a rir claro está. Sr Dr Médico a engolir em seco.
AC 1- Sr. Dr. Médico 0 - por enquanto claro está. Prognósticos só no fim do jogo e este jogo ainda agora vai na primeira parte.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Estofo para a coisa...



Estas coisas do trabalho de cada um tem muito que se lhe diga. 

Não é preciso só formação para a coisa - esta premissa é inerente à maioria das profissões - precisa-se também esforço e força de vontade - esta segunda premissa também abrange a maioria das profissões é um facto, mas já só alguns dos envolvidos, e há depois uma terceira, que no meu caso e no caso aqui do gajinho da miúda é fundamental e muito especifica - chama-se estofo para a coisa. 

O matraquilho, gajo dos carros da luz pisca-pisca azul, malta do grupo dos pokemóns e das patrulhas a pé, ou enlatadas como na gíria lhe chamam, ontem foi chamado de urgência para uma operação de busca. E a busca era exactamente o quê? Procurar pedaços de um corpo de um ser que se atirou voluntariamente para a linha do comboio e foi por opção passar a feliz quadra Natalícia à terra. Andou o gajinho a pé, para cá e para lá umas boas horas e umas boas centenas de metros em busca de pedaços. Um pé aqui, metade de uma perna acolá, dois dedos de uma mão numas silvas, um braço na linha a mais de um quilómetro do local e mais pedacinhos espalhados... poupo-vos o resto da parte descritiva da coisa porque toda a gente sabe que esta maravilha do corpo humano quando é estropiado fica separado nuns bons bocados.

Chegou o pobre e infeliz a casa, agoniado, e com cheiro "a morte e a sangue nas narinas" sic, a despir-se à entrada da porta, a atirar com a farda para o chão do hall e a correr como um possuído para debaixo do duche. Esfregou-se mil vezes, ensaboou-se com sabonete, depois duas vezes com gel de jasmim e mesmo assim gritou: 

- É pá anda cá ver se ainda cheiro a sangue e àquele fedor que trazia comigo. Não sei como tu consegues ter estofo para esta merda de sangue e gente a morrer todos os dias, esta coisa da morte agarra-se-nos ao corpo, até o cheiro da nossa pele se altera e absorve tudo.  

- Lava-te lá, que já te ensino um truque para deixares de sentir esse cheiro no nariz a trazer-te à memória o cenário que te apetece esquecer. Sou boa nisso.

...

Terminei a noite a untar-lhe o nariz com a única coisa que (a mim) me elimina todos os vestígios de cheiros que queira esquecer. O velhinho Vick Vaporub eficaz mesmo com os cheiros horríveis e mais entranhados nas narinas. E com ele aninhado, cansado, a adormecer e a dizer-me: por muitos anos que viva nunca mais me vou esquecer de tudo o que vi hoje. 

Pois... sei disso tão bem.

sábado, 17 de dezembro de 2016

Fui linda e bem comportada... quero muito isto, siiiiiiiiim?


Feliz Natal miúdas.

Por aqui não há velhote barrigudo de barbas branquinhas e cabeleira a precisar de tesoura, se é para sonhar ao menos sonha-se em bom, em grande, com um Pai Natal magricela, de abdominais tablete, abs crack comme il faut e barba aparada de apenas dois dias, exactamente como nós tanto gostamos. E claro aquele sorriso malandro que completa o visual e que faz suspirar corações e adivinhar malandrices para descobrir.
Há que sonhar em grande.

Todos os anos escrevo a minha carta ao Pai Natal, este ano mantenho o meu pedido dos anos anteriores (muitos) e ainda não concretizado e acrescento-lhe 3 outros. 4 coisas apenas... Não peço muito, peço em grande.

1.  Uma viagem a Nova Iorque.

Pode ser na semana do Natal ou pelo Ano Novo. Assim uma coisa cheia de luz, cor, frio, renas pelo ar e magia. 


2. Este Relógio da Gant. 

Lindo que dói.
Andamos de namoro há algum tempo, de vez em quando chego perto dele, insinuo-me, mas ele não me dá trela, afasta-se. Têm aparecido uma viagens, uns fins de semana e um carro novo a intrometerem-se entre nós e ainda não chegámos a vias de facto, assim um compromisso eu e ele para a vida. Talvez um dia...



3. Passar o fim do ano com o meu gajinho. Há anos que tenho um Fim de Ano de merda ou passo-o a trabalhar. O último mesmo bom que tive foi há 4 anos. Pela primeira vez desde há muito tempo vou estar sem trabalhar na noite de Fim de Ano e tenho até o Fim de Semana todo para gastar como me apetecer. Queria muito, muito, muito, muito, passar esta noite com ele, na rua ao frio, nós quentinhos apenas de beijos, de abraços apertados, de saltos tontos e gargalhadas molhadas de espumante e passas amassadas pelas mãos transpiradas. E à meia noite esborrachar-lhe a boca com um beijo. Se vai ser possível? Não sei ainda. Ele ainda não tem a escala de turnos (a minha escala é mensal, a dele semanal) e a probabilidade de estar de serviço é enorme, 95%. Pai Natalinho ajuda-me lá na porra do calculo de probabilidades, na Matemática aplicada à Estatística e assim, e zela por mim e pelos 5 por cento que me podem calhar no sapatinho. Ok?

Quero muito isto.


4. Nas nossas próximas férias. 

Uma semana inteira como pensado, programado. Bem planeado. Já em Janeiro. Férias marcadas já temos, assim o universo faça a sua parte e não conspire contra nós e os ventos de Suão não soprem de África e não levantem poeiras que nos entrem para os olhos e façam chorar. Ou a vida desate a arremessar-nos tijolos, pedregulhos do tamanho de bolas de Basket ou até tampas de saneamento. Nesta vida já espero tudo até elefantes voadores.



Feliz Natal

Ai essa coisa fantástica que é o género feminino...




Ninguém nasce mulher: torna-se mulher.

Simone de Beauvoir.


Gosto de ser mulher. Gosto do meu género. Gosto de cuidar de mim e gosto que cuidem de mim. Gosto de quem me gosta. Sou insegura às vezes, sou altiva e orgulhosa outras tantas, sou menina ou mulher arrojada. Sou carente ou desapegada depende dos dias e das hormonas. Tenho tpm, tenho dias de lágrimas, tenho dias de gargalhadas constantes por tudo e por nada. Sou assim ou assado. Sou de decisões imprevistas e grandes escolhas. Sou de paixões. Gosto de correr riscos e não sou de desistir. Gosto de homens complicados. Defendo as causas perdidas, luto pelo que quero e pouco me importa as normas dos outros, tenho as minhas. Sou sempre anti-norma e fujo delas. Sou de opiniões e defendo-as. Sei sempre o que quero, mas nem sempre o que quero hoje, quero para mim amanhã. Sou de chegadas com abraços gigantes e muito colo, mimos, sou também de partidas rápidas sem grandes despedidas quando aquele lugar já não é o meu. Detesto despedidas. Não faço fretes. Não sei estar por estar. Gosto de viver, gosto da minha vida, gosto do que faço, gosto da minha casa, gosto dos meus amigos (tenho pouco mas muito bons), gosto do homem que reparte comigo a cama e a vida. Gosto de sexo. Gosto da intensidade no sexo. Não penso no futuro, não faço planos, não me preocupa a vida dos outros. Sou alheada do que me rodeia, selectiva, com um sexto sentido brutal e um descomplicómetro ligado para o que não me interessa, filtro o que me agrada e descarto bem o que me pode atingir. Sou excelente a ignorar e a dar desprezo. Jamais alimento birras ou guerras. Afasto-me rapidamente e deixo quem quer que seja a falar sozinho e a devorar-se sozinho. Detesto rotina e monotonia. Sou de dar a quem merece receber. Sou generosa. Sou lamechas quando quero, sou de perguntas difíceis e sem resposta.

Gosto do que vejo quando me olho ao espelho.
Sou o que sou.

Sou Mulher.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Mais um ano de vida para mim...




No final de mais um ano de vida chego à conclusão que fiz uma série de coisas que queria muito, viajei, vivi a vida como gosto ao sabor de muita diversão e prazer pelas pequenas coisas, saí tudo o que quis, mantive os mesmos amigos, conheci pessoas novas, arranjei novos amigos, e envolvi-me de razão e coração num novo amor que estou ainda a descobrir. Aquele que apesar de todas as tempestades e do mar revolto que ambos somos tem insistido em mim e tem-me dito espera, não desistas já de mim. Contamos já com alguma coisa vivida, muita coisa partilhada e sobretudo muitos bons momentos. Faltam coisas. Sinto que faltam. Faltam gestos. Faltam palavras. Deixo-me ir saboreando a viagem e sem pensar muito para onde vou. Ou para onde a vida me leva.

Depois de mais um ano vivido o balanço é positivo. Cada dia valeu a pena, felizmente muito mais coisas boas que más, algumas coisas totalmente novas experimentadas por mim, vida cheia de vida participada activamente, com muitos riscos, algumas situações de ter que activar o pára-quedas de emergência para não me estatelar no chão, sobrevivência pura, adrenalina total, e uma boa capacidade em transformar desvantagens iniciais e claras zero hipóteses de ser bem sucedida, em mudanças radicais e vantagens para mim. Mudei muita coisa. Mudei eu também. Sinto-o. Aquela frase batida que a vida nos ensina a crescer e cada pedaço do que somos depende do que vivemos, começo a acreditar que é verdade. 

Consegui ser feliz. Essa é a verdade final que guardo para mim. Concretizei sonhos, acrescentei viagens, conheci muitos e novos lugares, risquei metas, atingi objectivos. Perdi também. Perdi amor, perdi pessoas.  Aprendi a perder. Ergui os braços, arregacei as mangas e fui à luta. Procurei o que achei que me faria feliz. Com muito pouco e sem grande dúvida com muito menos do que a maioria das pessoas consegui transformar o pouco em muito, e o muito em tanto. E tanto é imenso. 

Sendo assim, ergo a minha taça à vossa saúde, à nossa.

 E venham de lá mais uns quantos anos que eu adoro viver.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Coisas que me ocorrem depois de uma visita a ... a parte privada da coisa.




Se eu e o matraquilho nos entendemos bem? Bora definir primeiro bem. Se definir bem é um dizer mata e o outro dizer esfola ok, foi bem. Se bem é ser gentil, atencioso, meigo, preocupado e nada egoísta o bem fica muito aquém do esperado isto se é que é justo, e possível, esperar-se alguma coisa de alguém. Coisas simples como arrastar uma mala de cabine ao longo de uma avenida com 3 km  e um quarteirão inteiro e mais uma mochila às costas sem nunca ouvir um simples, precisas de ajuda, ou deixa estar que levo um bocadinho a tua mochila são coisas que entendo como boa educação, formação, e mais merdas acabadas em ão, eu sei que essa coisa da igualdade faz do género apenas um substantivo masculino mas eu continuo a esperar que se preocupem comigo. E não abdico disso. Só isso. Vale o que vale. Na realidade não morri, estou viva e mala chegou ao destino.

Além disso o matraquilho azul tem sérios distúrbios de sono, a razão porque os tem, não sei, não faço a mínima ideia, pela razão de fazer escala e turnos não deve ser, porque eu também faço escala e turnos há muitos e bons anos e quando chego à cama adormeço que nem uma santinha, descanso bem e não tenho quaisquer problemas em acordar cedo. Ele para dormir é um tango, são três da manhã, quatro, cinco e não dorme, aliás nunca consegui adormecer antes das 4 da manhã, já para acordar, o despertador dele do telemóvel é uma sirene de uma fábrica mas mais parece um aviso de ataque aéreo e mesmo assim ele mal consegue levantar-se, é preciso acordá-lo, uma, duas, dez vezes e nas últimas vezes quase ao pontapé para obter resultados. Sinceramente que este facto me cansa. Não foi fácil acordar todos os dias com uma pessoa que precisa de uma bomba a explodir na cabeceira para se conseguir levantar. Não tenho mesmo pachorra para isto.

Depois a forma como lida com o stress e as adversidades. Numa viagem há sempre alguém que se atravessa numa fila, ou algum segurança no controlo que implica com alguma coisa, ou algum atraso, ou nos enganamos no sentido da linha de Metro, ou, ou... faz parte. Que seria das viagens se não houvesse no final uma boa historia para contar. Ele complica em vez de descomplicar e ferve em muito pouca agua, é preciso estar sempre a "puxar" por ele para o lado do vai correr bem, não faz mal andarmos mais 5 estações de metro, não temos pressa, estamos de férias, e que interessa se o gajo da camisa azul te passou à frente? Cansa-me estar sempre a puxar por alguém. Sempre. Sempre.

Bom e agora?
Não sei, vejo as voltas à rotunda a tornarem-se cansativas e de vez em quando já me ocorreu sair na próxima saída ou em dias mais negros saltar em andamento. Vamos ver....

Talvez um dia...




Ai a razão, ai o coração em luta constante. O que um quer o outro não quer. 

E o que eu quero? 


Eu quero ser feliz. Faço por isso, esgravato a vida todos os dias a lutar por isso. E quando penso que tenho o coração duro e fechado a sete chaves, vem a razão e estraga tudo, e quando tenho a razão alinhada e no bom caminho do bom senso, o coração ri-se e desfaz tudo num segundo.

Talvez um dia aprenda a amar com a razão, não foi ontem, não foi ainda hoje.

Talvez um dia aprenda à força.

Coisas que me ocorrem depois de uma visita a Berlim...

A cidade é gigante. Tem uma rede de transportes fabulosa, o comboio suburbano, o comboio urbano e o metro entrelaçam-se numa rede funcional que permite ir do centro de Berlim a qualquer lugar da periferia como por exemplo Schonnefeld (um dos aeroportos) Tempelhof um antigo aeroporto desactivado e que servia em comum as duas Alemanhas divididas (um lugar giro de visitar) ou Postdam e os seus palácios e que era a zona da residência de férias do rei Frederico e fica já na floresta.

Tudo é cuidado, bonito, limpo. O policiamento das ruas é uma constante e há milhares de cameras por todo o lado, temos sempre a sensação de estarmos constantemente a ser observados, são um pouco paranóicos com a segurança até. Quanto ao povo alemão é um povo que gosta do turismo pela riqueza que gera ao país mas não gosta de nós turistas em particular. Olham-nos de lado como se fossemos uma raça a extinguir. É uma sensação estranha e foi a primeira vez que senti isto depois de já ter visitado mais de vinte países e muitas capitais europeias. Há algo que se me escapa. São desconfiados e muito antipáticos, mostram enfado e até algum desprezo cada vez que se pede uma informação.

Visitei Berlim dez dias antes do Natal. Os mercados de Natal, as luzes e a animação das ruas são uma constante e uma experiência inesquecível, a guardar para sempre, e para mais tarde recordar. Experimentei vinho quente com canela, e bebi várias das marcas das cervejas nacionais. São praticamente sem álcool e consegui beber 3 canecas de meio litro cada sem ficar a trocar o passo, o que para mim é de todo uma coisa rara e nunca vista, impensável sequer por cá já que ao fim da terceira imperial de apenas 20 cl arrumo as botas com risco de ficar tonta.

A história da cidade é devastadora e ao mesmo tempo impressionante. Berlim foi totalmente arrasada, ocupada, dividida e depois como que por milagre reconstruída, reerguida e renascida para os mercados económicos, para o turismo e para a finança. O edifício Sony na Sony Plaza é gigante, o Mercedes Arena maior que um estádio de futebol, o Forum Volkswagen uma lição de história e de engenharia, e por aí fora. A Porsche, a BMW and so on. A dimensão do muro de Berlim (155 Km) e a divisão da cidade deixam-nos a pensar como é que foi possível aquilo. 

Deixo aqui alguns dos locais que me marcaram.


Sony Plaza - Postdamer Platz- Berlim
Christmas Time
Berlim Televison Tower - Berliner Fernsehturm
Vista do alto dos 262 metros da Torre de Berlim
Berlim Wall - East Side Gallery

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

De são e de louco todos temos um pouco...




Enquanto houver um louco, um poeta e um amante haverá sonho, amor e fantasia. E enquanto houver sonho, amor e fantasia, haverá esperança.


William Shakespeare.


Estou a ir para mais uma semana de férias. Vamos juntos para Berlim. Eu e o matraquilho azul. Levamos a mala cheia de roupa quente, camisolas, cachecóis, gorros, meias de lã, ele leva até collants de malha tipo ceroulas que costuma usar no inverno debaixo das calças da farda (hihihi o que eu já me ri) mas acima de tudo levamos o coração cheio de sonhos. Queremos ver, sentir, viver. Queremos aproveitar, absorver, e guardar o máximo de tudo para sempre. Haja o que houver - percam-se as pessoas, perca-se o amor - os lugares, os momentos, as oportunidades ficam gravadas na memória e no coração para sempre. Não guardo pedras do caminho, essas arremesso-as à tola de quem mas coloca lá para eu apanhar, guardo com carinho tudo o que vivo e felizmente tenho tido uma vida cheia da qual me orgulho, e basta-me fechar os olhos por um segundo para conseguir ser teletransportada para qualquer um dos lugares onde já fui incrivelmente feliz. 

As Highlands na Escócia, a chuva miudinha constante, as ovelhinhas pela imensidão de pastos verdes, os bares aquecidos, as minhas gargalhadas felizes. Ou Paris e um beijo na boca, intenso, na avenida dos Champs Élysées debaixo dos flocos de neve que caiam, o quente do beijo, o frio da neve, a dormência dos lábios. Ou os fins de tarde numa varanda de um aparthotel num chalet de montanha na Suiça a contar anedotas, a repartir vida, a ver videos de quedas e a rir, enquanto as cervejas enterradas na neve lá fora aguardavam por mais uma rodada partilhada. Sempre a vida a seguir o seu curso, sempre o amor presente em cada detalhe do que vivo. Sempre a vontade de conhecer mais e viver mais.

Irei escrever mais um capitulo, irei acrescentar mais uns bons momentos ao meu percurso. Irei de certeza fazer feliz e ser feliz. Vou voltar com a vida mais cheia.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Os meus medos...



Nunca tenha medo de tentar nada de novo. Parece que um aventureiro solitário e amador construiu a arca de Noé. 
E um grande grupo de profissionais competentes o Titanic.

Dave Barry


sim tenho um medo horrível de sofrer. tenho um medo devastador de perder, consequência de ter perdido tantas vezes. tenho medo do amor, de me deixar ir na entrega e ficar refém do que não quero. tenho medo de amar. tenho medo de precisar incondicionalmente de alguém, de sentir a falta e deixar de ser absolutamente livre e independente. tenho medo de ficar à espera de alguma coisa, de esperar pelo que outro pode ou não querer dar-me. tenho muito medo de vir a ser infeliz. 
o estado de dependência emocional e a infelicidade são mesmo os piores dos meus medos.

isto está a correr bem. tão bem que os planos para fazer coisas a dois, construir coisas em conjunto já nunca são subtraídos da equação. tão bem que por esse facto ainda sinto mais medo. tão bem que me está a dar vontade de fugir antes que isto corra mesmo mal. era só estúpido não tentar. era ser mesmo burra em não arriscar tudo a ver se é de facto tudo tão bom como me parece ser... ou não. 

vamos então prosseguir, venha de lá mais uma voltinha à rotunda. 

sem medos!

domingo, 4 de dezembro de 2016

Cruzes, credo!




Cá em casa os objectos deslocam-se. Está provado e comprovado.

Depois de uma noite daquelas, muita chuva lá fora e muito calor cá dentro. Demasiado agitada, longa, absolutamente fantástica, a minha cama tinha-se deslocado meio metro da parede. 

Meio metro????? 
Como é que isso é possível?
Pois.

Cenas do além.

Filo qualquer coisa...


É isso. E couves!

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Zás...






- Bem, tu não perdes tempo.  Rei morto, rei posto. Ainda ontem te via tão apaixonada pelo X e agora leio nos teus olhos que estás mesmo apostada em ser feliz com o Z. Tens vontade de guerreira. Cortas a direito.

- É, eu gosto de muito de espadas e cabeças decapitadas.

Crú...




Qualquer mulher troca flores e poemas por orgasmos múltiplos. O amor é apenas um estado febril mais ou menos transitório, mas o desejo existe, resiste, é bravio, apega-se ao corpo.

João Morgado

Sou tudo de isto tudo...





Mulher Sagitário*
Texto retirado do texto original "Mulheres de cada signo"


Original, essa é a palavra. sou diferente. Nem sempre diz o que queres ouvir e na maioria das vezes vai deixar-te arrepiado com suas observações francas e desconcertantes mas de vez em quando vai dizer-te coisas tão maravilhosas que te vão fazer dançar sem parar de felicidade. verdade. sou a primeira a não deixar coisas por dizer. nenhuma palavra atravessada na garganta, mas também a primeira a elogiar e a agradecer. aliás gosto sempre de agradecer o bem que me fazem. Sincera, sarcástica e independente sempre. dolorosamente independente, às vezes até demais. Não tentem mandar nela. Se nem o pai consegue dominá-la não vai ser qualquer homem que vai poder dar-lhe ordens. mais outra grande verdade. uma das razões porque saí de casa com 19 anos, adolescente ainda. Se a pressionarem muito a palavra certa, é tchau! assustadoramente certo. prefiro largar a viver infeliz. Ela não abre mão da sua personalidade por homem nenhum, por isso só resta gostarem dela da forma que ela é. E se não gostarem? Ela vai procurar quem goste. E vai achar rápido, rápido, garanto. toda a vida fiz assim e nunca me dei mal com isto. quem gosta quer e luta, estima, quem não gosta adeus e um queijo. É o tipo de mulher que quanto mais nervosa, mais sarcástica. outra verdade incontornável. quanto mais me dá para rir e dizer coisas parvas, mais insegura e nervosa estou. quem me conhece sabe bem isso. Ela pode mandar gente para o inferno com um sorriso no rosto e ridicularizar pessoas na frente de todos se a chatearem muito ou muito pouco. gosto de ridicularizar gente com a mania que é melhor e mais que os outros.

Mas felizes das pessoas que tem uma sagitariana ao seu lado. 

São eternas crianças! sou sim e como adoro esse meu lado. Sempre alegres e cheias de vida, alegram festas e serão amigas e as melhores confidentes. sei segredos de amigas minhas que fariam inverter a perspectiva do mundo. Já repararam que uma sagitariana anda sempre de nariz empinado até que... Ops, tropeçou, caiu! Destrambelhada e desastrada.sou mesmo.Tendem a fugir de relacionamentos por puro medo de se envolver, adoram fingir-se de gajas duras e insensíveis por medo de se magoarem. outra verdade. acho sempre que nunca me apaixono, que é impossível o amor controlar-me. São orgulhosas. ui, tanto... mas confesso que com a idade a coisa tem melhorado. Mas querem saber? Quando ela se apaixona irradia felicidade, beija com audácia, aliás faz tudo com audácia e prazer... e faz qualquer amor delirar. dizem que sim. disseram todos. todos a quem amei, até hoje. Mas não esperes que ela te faça juras de amor. nop, essa cena não é para mim. é bom enquanto durar, seremos felizes enquanto o amor não acabar. Para uma mulher de sagitário mais vale uma acção do que qualquer palavra. o lema da casa é pequenos gestos fazem grandes as pessoas, e palavras leva-as o vento. Para ela é difícil falar sobre o que sente. raramente falo. encafuo segredos no mais profundo de mim, que guardo só para mim. Estar ao lado de uma sagitariana é viver intensamente e acreditar no futuro mesmo que incerto e quem se atrever a jogar o jogo do amor com ela vai viver as mais loucas aventuras. adoro viver, adoro aventurar-me, esticar a corda, pisar o risco, arriscar, testar os meus limites. adoro sonhar. e até para mim, viver comigo é tãooooo cansativo mas faz a vida valer a pena.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Previsão meteorológica para os próximos dias...





Bastante frio, mas o sol vai dar um ar da sua graça e chuva vai estar ausente. O coração vai estar quente e as gargalhadas vão soprar com intensidade. A felicidade vai ser constante e animar os dias com boas abertas. Os beijos... bom esses vão ser a escaldar. Esperam-se temperaturas tórridas todos os dias depois do anoitecer.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

A pulsar...



Vive a tentar realizar muitas das coisas com que sempre sonhaste e não te sobrará tempo para te sentires mal.

Richard Bach.

Pulsar é uma estrela de neutrões que emite um fluxo de energia constante e essa energia é concentrada num fluxo de partículas electromagnéticas. Quando a estrela gira, o feixe de energia é espalhado no espaço como o feixe de luz de um farol.
Uma luz intensa, brilhante.

...

Ou na forma verbal significar ter coração, batimentos cardíacos, vida, palpitar. 
Ou revelar energia, mostrar-se vivo, dinâmico.
Ou simplesmente apenas intuir, perceber.

...

Só que não...
Pode ser muita coisa. Pode ser outra coisa que só eu entendo.

Muito pouco de tanta coisa...


"...as pegadas impressas na alma são indestrutíveis."

Thomas de Quincey


Morreste pá?

Não ainda não morri. Ainda não foi desta. Andei ocupada a fazer a Rota das Aldeias Históricas (desta vez só 5 delas, Celorico da Beira, Linhares da Beira, Loriga, Sabugueiro e Folgosinho). Mais uns quilómetros percorridos e uns quantos trilhados. E dei um salto até à Serra da Estrela. Tenho uma paixão assolapada por neve e sabia que tinha nevado bastante, não quis estar tão perto e perder este espectáculo. As fotos não são grande coisa, foram tiradas com o telemóvel mas demonstram bem que o nosso país é absolutamente maravilhoso e com muita coisa para ver e descobrir. Deixo por aqui meia dúzia de fotos.






sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Conselho muito importante...




Tive hoje uma doente muito velhinha, com caquexia acentuada que me deu um conselho para a vida.

Filha...

tu ouve bem o que te vou dizer, e grava isto para a vida. Nunca recuses o teu homem, nunca lhe digas que não o queres ou que não te apetece, que estás cansada ou dói-te a cabeça. Eu fiz isso tantas vezes com o meu e agora a coisa que mais me apetecia antes de morrer era dar uma fodinha.

(Sic D. Maria de Jesus)

...

Logo de seguida conversa entre colegas de equipa.

Judy - Eu vou pinar até morrer. Vou entrar no lar e arranjar logo de seguida um velho todo jeitoso para me aquecer.
Ac - A parte do jeitoso é que vai ser difícil. Esquece lá isso.
Picolé - Eu quando for para o lar a minha missão vai ser semear a confusão com as velhas e dar cabo dos velhos todos. É certinho.
Pedrinho - Fosga-se e ainda vais ter pedalada para isso? Matas os velhos pá.
Picolé - Morre um, arranjo outro. Há lá muitos. Passa a ser velho morto, velho posto.
Lsd - hehehe, a Picolé passa a ser conhecida pela mata-velhos.
Duarte - Então vê se escolhes bem... os de Parkinson são os melhores.Tremem das mãos e do corpo todo.
Picolé - Gosto dos com Alzheimer, dão uma e a seguir dão outra porque já se esqueceram da primeira. ( a rir )
Pedrinho - É pá, e achas que vais chegar a velha com dentes?
Picolé - Sei lá. Quando chegar lá logo vejo.
Pedrinho - É que as velhinhas desdentadas são as preferidas!

Entra um médico na sala de pausa, apanha a conversa a meio e diz:
Quem é que gosta de velhinhas desdentadas?
Judy rapidamente -  É ele !! O Pedro! 
Médico a olhar com cara de parvo para o Pedro.

Tudo a rir....

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Mais uma voltinha à rotunda. É sempre a andar... esta merda não para.



Minha vida é um conto de falhas.
Tati Bernardi

O meu negócio não são números e nem sequer palavras, falo, falo, e não digo grande coisa, mas falo do que quero, do que me dá na real gana e apenas por puro prazer. E como tudo na vida tem uma razão de ser e a razão deste blog é mesmo ser "nada de coisa nenhuma", muitos nadas da minha vida, coisa nenhuma para a maioria de vocês - vou aqui contar um segredo. Ou melhor... mais uma loucura cometida de forma intencional e cheia de dúvidas.

Acabei de marcar as minhas férias todas para 2017 em conjunto com o matraquilho azul. Ai jasus ca medo. Neve no final de Março, Ilhas Gregas em Abril, Algarve quinze dias de Verão, e uma semana em Outubro de logo se vê. Não sei se isto vai correr bem, ou se vai correr muito mal. Se vai meter férias e hot summer ou férias e um grande balde de água fria. Assim à distância estas duas coisas podem acontecer. Caldarium ou Frigidarium.

Mas já está. E agora venha o que vier e haja o que houver é mesmo apenas e só o que Deus quiser.

domingo, 20 de novembro de 2016

Left Feet...



É saudável rir das coisas mais sinistras da vida, inclusive da morte. 
O riso é um tónico, um alívio, uma pausa que permite atenuar a dor.

Charlie Chaplin


Adoro rir. Rio por tudo e por nada. Qualquer pretexto é bom. E chamem-me tontinha que eu nada raladinha com isso.

Esta noite dei por mim a rir como há muito tempo já não ria. Confesso que já tinha saudades de tempo no trabalho para rir, do espírito de equipa, da amizade e da entreajuda entre nós com tempo de gargalhadas. O verão foi duro, equipas reduzidas, seguimentos de turnos, colegas exaustos, mas agora a pouco e pouco tudo está a regressar à normalidade. Adoro os meus colegas de trabalho, a cumplicidade só nossa nos pequenos gestos disfarçados que dizem tudo, nas trocas de olhares dissimuladas que só nós entendemos, nos silêncios onde tudo se diz sem dizer uma única palavra, ou apenas no levantar de sobrancelhas quando algum de nós diz alto aquilo que não deve. Há um código que só nós entendemos. Muito nosso.

Hoje o Dr. P. Martins foi ao cesto dos socos à procura de uns socos 44 para calçar, e vasculhou, vasculhou, mas não encontrou nenhuns completos. Restavam apenas 3 pares de socos que lhe serviam mas só com pés esquerdos, o Dr. P. Martins que é um gajo despachado e divertido não se atrapalhou, toca de calçar os dois socos esquerdos e fazer-se à vida. A figura era hilariante, parecia um palhaço com as biqueiras das socas com o ângulo ao contrário, e por onde passava toda a gente ingenuamente lhe dizia: Ó Dr. Martins tem dois pés esquerdos, ao que ele respondia: acabei de descobrir que por aqui há mais gente com pés direitos que esquerdos, gosto de fazer a diferença.
E lá andou ele as 12 horas de banco com dois left feet e nada raladinho.

E toda a gente ria. E foi tão bom rir.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay...





Não acredito em bruxas montadas em vassouras, em espíritos de braços abertos que flutuam por cima da minha cabeça ou em fantasmas que atravessam paredes. Sou céptica, muito terra a terra e os domínios do transcendente e de tudo o que é oculto, não palpável e visível causam-me alguma confusão. Mas volta e meia a vida prega-me uma partida, e aquilo que eu dava como certo, inquestionável, de um momento para o outro evapora-se, e tudo se altera.

No meu hospital existem pessoas doentes que habitam por lá. Habitar de viver, isso mesmo. Na saída de turno oferecemos sempre as nossas ceias a quem não tem nada que comer, e que faz de uma caixa com um pacote de leite simples, um queijo triângulo e um pão com manteiga, a refeição do dia. Temos conhecidos que vemos mesmo todos os dias, dos quais sabemos os nomes, as antigas profissões, alguns pormenores da família e até as razões porque se encontram sozinhos e abandonados.

O ti Joaquim, como carinhosamente tratamos o sr Joaquim, é nosso paciente há vários anos, tem centenas de episódios de urgência e vive por ali, uns dias fica internado e tem direito a uma cama, lençóis limpos, comida, banho, noutros não fica internado, mas tem cuidados médicos e dormita por lá num banco corrido, tudo com direito a alguma comida e um tecto.

A noite passada o ti Joaquim voltou a ser internado, muito debilitado, com uma tosse horrível de muitos anos de dependência tabágica, excessivamente magro, com diversas patologias associadas, entre elas uma tuberculose pulmonar que nunca lhe deu tréguas, cheio de feridas nunca tratadas e infectadas, e repleto de sujidade.

Nesta noite o nosso ti Joaquim não comeu o pão da ceia, nem sorveu o leite do pacote como se o espremesse, entrou muito mal, a equipa médica fez o que era humanamente viável, mas devido ao estado avançado da doença e à extrema debilidade, faleceu. Até aqui nada de novo, todos os dias nos morrem doentes, e o ti Joaquim desde há bastante tempo que sofria demasiado. Quero acreditar que para ele foi um alivio. O estranho disto tudo foi o que se seguiu.

...

Nos hospitais faltam sempre camas, numa urgência dura e complicada como a minha existem sempre doentes em macas que aguardam uma vaga para poderem ter o merecido direito a uma cama. Parece igual o termo, maca e cama até porque ambos servem para estar deitado mas na realidade não são. São até muito diferentes, em largura, altura dos colchões, conforto, e no próprio espaço onde são colocadas. Assim na cama do ti Joaquim deitámos um rapaz de 22 anos que tinha sido operado de urgência a uma apendicite aguda, nada de transcendente, o doente estava estável, meio sedado, e em recobro cirúrgico pós-operatório. Eu volta e meia ia vê-lo.

Numa das minhas aproximações o rapaz disse-me baixinho: tire-me daqui, arranje-me outra cama por favor, não consigo sossegar - está aqui um homem velho, sujo, mal cheiroso que não faz senão empurrar-me e dizer que saia daqui que a cama é dele. Comecei por lhe dizer que ele tinha sido anestesiado, ainda estava sobre os efeitos da sedação e que era normal ter períodos de agitação motora, e algumas alucinações, que era tudo normal, que não estranhasse.

Qual não é o meu espanto quando o doente começa a descrever o ti Joaquim.

Está aqui um velho, tem o cabelo todo branco, barba suja e amarelada, dedos castanhos da nicotina, a unha do mindinho grande e porca, e todos os outros detalhes físicos que correspondiam ao ti Joaquim e que era impossível ele saber.
Olhei em volta, espreitei por cima do ombro, tentei ver alguma coisa na penumbra, abri os olhos repetidamente enquanto lhe ouvia a descrição... não vi nada. Agarrei-lhe a mão, falei baixo e sosseguei-o.

Explicar isto não consigo, mas espero que o ti Joaquim não tenha pena da cama que perdeu e encontre lá onde estiver - seja isso onde for - uma cama bem melhor.