segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Cenas sobre mim...



Adoro conduzir e falar ao telemóvel (tenho auricular) aliás o carro é o local onde aproveito para por os telefonemas em dia e as longas conversas actualizadas. Enviar sms também faz parte do programa, e já tenho uma técnica bem boa. Shiuuu mas isto não se diz. Tenho uma excelente capacidade de me rir num segundo e chorar no outro, depende das circunstâncias e confesso que sou capaz de sorrir e dar umas valentes gargalhadas quando a minha vontade é desabar em choro, consigo até confortar alguém quando afinal o que queria era mesmo um colo e uma boa dose de mimo só para mim. Sou mimalha, adoro mimos. Dar e receber. Não trato mal os homens, acho até que não trato mal ninguém, mas tenho um fraquinho por homens que me tratem bem. Essa parece ser a fórmula certa para me chegar ao coração. Era incapaz de ter uma relação com alguém que não me trouxesse retorno, tipo quanto mais me bates mais gosto de ti, e há um mistério na minha vida que não consigo explicar... os homens de signo gémeos fascinam-me, seja lá isso dos signos a treta que for e inexplicavelmente inexplicável. Fazem parte da minha vida. Quando chegam vêm para ficar. Sou das que perdoo mas não esqueço e invariavelmente afasto-me. Gosto de jogos eróticos e adoro sexo. Fascina-me mais o antes, que o depois. Sou das que quando se lhe mete uma coisa na cabeça não desiste e levo tudo à frente no entanto não atropelo ninguém e sei perceber onde fica a linha do basta. Gosto de me fazer de parva, gosto de deixar andar para perceber onde é possível chegar, finjo demasiadas vezes que não percebo por opção, para não me chatear, e assobio para o lado como se não visse. São escolhas... e esta faz com que me aborreça muito menos. Sei que o amor é passageiro. Não acredito em amor eterno e já percebi há muito que o "E foram felizes para sempre" foi uma treta inventada nos contos de fadas. Raramente há finais felizes, mas há momentos muitos bons, alguns que duram meses, anos, e até muitos anos. Um dia chove no molhado e o bem bom acaba-se. Sou tramada, sou terrível, sou única e dizem que não existo. Sou também carente, insegura, insatisfeita, egoísta, doce, arrojada, impulsiva, arrogante, orgulhosa... dizem. Sou tudo isso e muito mais. Gosto de jantares de amigos, e de festas, e de saídas e de viagens (o meu maior pecado e o meu único luxo) e de barzinhos com boa música, e de karaoke, e de gente animada e bem disposta que me faça rir e divertir. Adoro fins de tarde (a minha altura preferida do dia) e esplanadas e imperiais, e praia no inverno, e o cheiro a mar. Vida de casa é para os gatos. Contento-me com pouco. Sou feliz com o que tenho e aprendi a viver de bem com a vida e com o que ela me dá. Consigo rir-me de mim própria e das minhas desgraças, fugir do que não me interessa e ignorar o que não quero. Tenho boa capacidade em me despedir, e só sinto falta de quem me sente a falta. Não dou nunca para o peditório dos amores impossíveis e das almas penadas. Sou muito terra a terra, crua, real, dizem que fria, mas também gosto de sonhos e tenho um mundo só meu onde regresso sempre que lhe sinto a falta. Lá onde tudo é perfeito e nada me desilude. Aposto tudo ou nada em ser feliz. Acredito no que já alguém muito a sério me disse: ninguém te conhece verdadeiramente. Sei coisas terríveis a meu respeito e convivo bem com elas. Tenho segredos inconfessáveis, só meus. Esta sou eu.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O conceito de beleza nas diferentes culturas na “pele” de Esther Honig.

O padrão do que é considerado belo é geograficamente relativo, variando entre culturas a nível mundial. Este é um projecto que manifesta essas tendências numa escala visual imediata.

A jornalista Esther Honig criou uma série fotográfica chamada "Antes e Depois", em que pediu a 40 indivíduos de mais de 25 países "Faça-me bela, de acordo com a sua cultura".

Eis o resultado, verdadeiramente surpreendente em função das diferentes regiões/culturas. A diversidade do belo de acordo com a geografia mundial.


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Está no ir...



Ajusto-me a mim, não ao mundo.
Anaïs Nin

Estradas longas fascinam-me. Há alguma coisa em desconhecer o destino que me seduz, e confesso que um longo caminho a percorrer é sempre um raio de um enorme desafio. Haja estrada. Haja caminho para seguir em frente. Tenho alma de fundista. É muito mais divertido ir que chegar. E infinitamente melhor ir, do que ficar. Preciso apenas que o caminho me agrade para me deixar ir, como se a paisagem envolvente me puxasse e fizesse também ela parte do prazer da viagem, para que o mover-me passo a passo se faça não pela pressa em chegar a algum lado, mas pela enorme satisfação que retiro de me deixar ir estrada fora neste lento caminhar ao sabor da vida. E que bem que me sabe deixar-me ir...

Vou!

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Partitura de corpos...




quero ter-te. dançar-te. usar-te na cadência do teu corpo ao meu ritmo. vai e vem de ancas. braços e pernas. bocas. línguas. dedos. toca-me. toco-me.
 
puxar e empurrar. entrar. andamento lento primeiro. allegro depois. vivace.

dedilha-me. manipula-me. instrumenta-me o desejo. embala-me docemente neste faz-te voar. conheço a melodia. nota a nota repito acordes nos lugares que já sei de cor. eu sei-te de cor. tu sabes-me tocar. sem nunca errar. 

repito uma e outra vez o que é bom de usar.
com cada nota soltam-se gemidos. e palavras. poucas. a letra da nossa música.

sinfonia de sons.
e nesta coreografia de prazer cabe tanto por dizer.

domingo, 23 de agosto de 2015

Turno da noite...




Dói-me o corpo. Doem-me os pulsos, e os cotovelos. E os ombros. Dói-me tudo. Estou cansada, esgotada, e não quero reclamar. Não adianta reclamar. Acabei de sair da Sala de Reanimação. Deixei o Diogo para trás com as marcas do cinto desenhadas no pescoço, estendido numa maca, gelado, arroxeado, coberto por um lençol. Era a terceira tentativa dele. Foi desta. Vai ser preciso lá voltar, mas não agora. Resmungo baixinho que cheiro mal mas ninguém me ouve ou a verdade mesmo é que ninguém quer saber. Acabámos uma Reanimação mal sucedida, mais de hora e meia de manobras sem nunca desistir, revezámo-nos em cima do doente uma e outra vez, ouvimos a palavra "trocar" uma meia dúzia de vezes, utilizámos o desfibrilhador outras tantas. O Pedrinho tem nas costas desenhado as marcas de suor, eu sinto o cabelo colado junto ao pescoço e o suor a escorrer pelo peito, estou peganhenta e sinto o meu próprio cheiro o que me desagrada profundamente. Sinto-me agoniada, suja, cansada, dorida. Tão exausta. Queria tanto um abraço. Fazes-me falta. Aquece-me. A minha colega Picolé, a eterna palhaça da equipa brinca com a situação, corta o gelo que nos acompanha, o frio do ar respirável e do cadáver que ficou lá atrás mas permanece agarrado à nossa pele. Tenta animar-nos com uma piadola fácil, demasiado seca mas que nos faz sorrir - Eh malta! Não sei para que gastam dinheiro em ginásios, aqui o exercício é coisa que não nos falta. E é à borla, aproveitem. Suámos as estopinhas. E remata : Temos um cheirinho vai lá vai! A Lsd, alcunha de alucinada mas de quem o verdadeiro nome é Marta enrola-se a um canto. Faz sempre isto e calada rói as unhas. Larga as unhas - ouve-se alguém dizer. Somos fortes, estamos habituados a isto, de facto estamos habituados a quase tudo mas perder uma vida assim tão nova é coisa que mesmo a malta habituada a tudo nunca se habitua. São coisas.

...

Vejo as horas, já são três da manhã e não jantei ainda. Sinto fome e sede. Tanta sede. Lavo as mãos lentamente, molho a cara. Estico a mão para uma das muitas garrafas de água em cima da bancada, escolho a minha, pego na caixa da ceia e sento-me. No colo preparo um pão com um queijo daqueles que dizem que a vaca se ri, só não sei de quê parvalhona da vaca e a esta hora também não me apetece descobrir. É sempre a mesma ceia para aí há dez anos. Reclamo da merda da ceia hospitalar. Faz parte. Volto a pensar que me dói tudo e só ao sentar-me apercebo-me do cansaço. Passados uns minutos, muito poucos, de novo o besouro da Emergência. Dou um salto, deito o resto do pão no lixo, enfio os pés coloridos em meias de riscas nas socas que repousam ao meu lado no chão e corro ainda a tentar calçar-me para a sala de Reanimação. A tropeçar nos pés e a perder as socas. Entro, e em conjunto com o resto da equipa oiço a informação do médico do Codu. Doente do sexo masculino, 47 anos, encontrado em casa em paragem cardiorespiratória por possível overdose medicamentosa...

E foda-se começa tudo de novo. 

sábado, 22 de agosto de 2015

Macacada de noticias...




Passou uma noticia sensação no jornal das 20h. Foi abertura de noticiário em quase todos os telejornais. Dada com ênfase, muito explorado o tema como convém para causar sensação, mas raros pormenores sobre o que era a noticia em si. Foi um facto sigiloso, abafado, escondido, dias depois ignorado, e uma semana depois misteriosamente desaparecido. Remetido para a gaveta dos perdidos, para eventualmente num dia longínquo ser achado. Dizem que tudo o que desaparece e para o qual não existe provas, nunca existiu. É um facto! Toda a informação que aparecia na noticia era falsa. Local, hora, meios, situação dos envolvidos. E como é que eu sei isto? Simples. Porque estava lá! Trabalhava, que é das poucas coisas e muito contra a minha vontade que me fazem participar em noticias. Então porque razão se não se sabe nada em concreto, se fala nisso? Porque dá audiências, shares, estatísticas. É um chamariz. Não se diz rigorosamente nada com interesse mas especula-se e atira-se uns bitates para o ar, pode até ser que se acerte ou alguém se incomode.

E esta é só uma das muitas razões porque não vejo noticias. Quem lá estava ri-se à socapa com a palhaçada que é isto tudo...

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Recordações...




Fui buscar uma mala ao armário dos esquecidos à terceira prateleira a contar de baixo. Revirei-a. Tomei-lhe o estado. Aprovei-lhe o aspecto. Dei-lhe ordem de sair à rua. Há muito que não via a luz do sol sabia eu, e hoje era um bom dia para uma viagem de ida e volta. Já no carro remexi-lhe numa das bolsas para tirar o telemóvel, colado a ele, caiu-me no colo um bilhete de entrada no Zoo de Edinburgh datado de Outubro de 2011. Tive que encostar. Parar o carro e fechar os olhos por segundos. Vocês não sabem, porque num blog nunca se sabe tudo, nem conta tudo, mas em quatro anos certinhos a minha vida mudou tanto, mas tanto.

Fica aqui uma foto tirada por mim, numa pequena ilha de madeira no meio de um pasto de zebras no Zoo de Edinburgh. Caía uma chuva miudinha, o dia estava cinzento, e eu levava vestida uma parka branca com a gola debruada a azul e por baixo um polar quentinho. Não tinha frio. Para mim e só para mim o sol brilhava, e eu estava imensamente feliz. Fui feliz neste dia e nesta hora (da foto) mas tudo o que é bom acaba depressa. Parece. E dificilmente regressa. Parece também.

Restou esta boa recordação que regressou agarrada a um pedacinho de papel que misteriosamente ficou numa mala e hoje assim do nada, caído do céu aterrou no meu colo.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

A Casa dos Beijos...





A Casa dos Beijos
  
Iam os dois pela rua, de mãos dadas. Dir-se-ia que não pisavam o chão. Dir-se-ia que deslizavam, que vogavam, que voavam. A felicidade estava-lhes cunhada nos rostos; e também nos gestos, nos sorrisos, no olhar. Iam de mãos dadas pela rua e iam muito felizes.
  
Ela tinha os cabelos longos e soltos, o tronco alto. Os seios puxados para a frente, as pernas esbeltas e livres, saias curtas. Ele era um pouco mais alto, um pouco apenas, camisa aberta, calças de ganga, uma pequena mala, daquelas malas dos antigos guarda-freios da Carris, a tiracolo. Isso: a mala estava a tiracolo, e eles iam muito felizes, os dois, de mãos dadas.
  
Nem sequer reparavam que muitas pessoas os observavam. Algumas pessoas com a conivência de um sorriso. Outras pessoas com um ressaibo de inveja, no olhar de esguelha. Pararam um pouco em frente à Pastelaria Suíça, no Rossio, ele disse qualquer coisa a ela, ela encolheu os ombros. Não deixavam de sorrir enquanto conversavam. Depois entraram e beberam café.
  
A esplanada da Suíça estava cheia de sol e de estrangeiros. Um vendedor de lotaria ofereceu jogo. Um rapaz sujo pediu algum dinheiro. Dois homens encontraram-se e abraçaram-se com efusão. Uma mulher apressada deu um encontrão num cego. Um cigano tentava vender relógios. Um polícia contemplava as coisas com evidente indiferença.

O rapaz e a rapariga decidiram, depois de tomar café, passear pelo Rossio. Estavam muito felizes. E é bom que se repita isto, porque as pessoas, habitualmente, andam para aí cheias de infelicidade, ao menos que haja alguém feliz, mesmo que seja uma ou duas pessoas.

Passeavam pelo Rossio e, de vez em quando, davam beijos, sempre sorrindo um para o outro, como se estivessem a sorrir para todo o mundo, e todo o mundo experimentava uma grande sensação de espanto e de júbilo. Paravam junto às montras do Rossio, olhavam, claro, mas não fixavam nada do que nas montras se expunha, só sabiam um do outro, só estavam ali juntos para apenas estar um com o outro, juntos e assim mesmo: de mãos dadas e aos beijos.
  
Foi numa dessas ocasiões. Beijavam-se tão felizes, tão um do outro, que essa felicidade molestou uma senhora obesa e flácida. A senhora obesa e flácida estacou, indignada, a fuzilá-los com as balas do ódio. E gritou:

— Não podiam fazer isso em casa?

A rapariga dos longos cabelos e seios puxados para a frente deixou o beijo a meio. O rapaz experimentou uma estranha sensação de pasmo. Olharam-se. E foi então que a rapariga respondeu, indicando tudo em derredor:

— Esta é a nossa casa!

Nesse instante trémulo, o mundo feliz, começou a aplaudir.
  

Baptista-Bastos, Lisboa contada pelos dedos (2001)

domingo, 16 de agosto de 2015

Eu sei...





Há dois dias fiz noite no hospital, foi uma noite daquelas que ninguém gosta, o diabo que é diabo foge a sete pés e os walking deads passeiam de riso trocista entre nós. Mudança de quinzena de férias, regresso para muitos, inicio para outros, chuva miudinha e piso molhado por essas estradas fora, e claro está que o resultado foram muitos sinistrados. A somar ao calendário e às diatribes do clima, a abertura da época dos fogos que já foi há um mês oficialmente mas continua em rentrées sucessivas a lembrar ao país que é verão por cá, mesmo que não pareça - por tudo isto trabalhinho nos costados não faltou.

Dei pela minha chefe de unidade com cara de caso, triste, de mal com a vida e com ela própria. Não que ela tivesse dito alguma coisa, não que tivesse sequer reclamado connosco ou comigo, ou eventualmente de alguma coisa também, mas são muitos anos de convivência, conheço-lhe o sorriso, o trato fácil, a boa disposição ou o olhar triste e o abrir de olhos e levantar das sobrancelhas quando um de nós mete a pata na poça e é hora de nos calarmos. É uma boa profissional, trabalhadora, uma boa pessoa, e tem sido uma boa chefe, justa, muito humana ( e ela não lê o meu blog, nem sequer sonha que tenho um, por isso não há aqui pontinha nenhuma de graxa ) e não é por acaso que a alcunha dela é a "mãe". A mãe de todos nós. A mãe sabe, a mãe ouve, a mãe ajuda, e a mãe já tem camuflado falhas que não deveriam acontecer mas que acontecem porque dizem que errar é humano.

Hoje quando passados dois dias - a saída de vela e a folga - regressei ao hospital, a primeira coisa que fiz foi aproximar-me dela e dizer-lhe: - Na última noite aconteceu alguma coisa com a equipa que corresse mal? Ou eu fiz alguma coisa de errado que seja necessário repreender? Achei-te tão triste, tão cansada, com um desgaste tão grande que se aconteceu alguma coisa tens que me dizer para podermos corrigir, a ultima coisa que eu quero e todos nós queremos é dar-te chatices e dores de cabeça. Foi imediato, agarrou-me nas duas mãos, e disse-me - não amiga, não foste tu, e não foram vocês, sou eu... e deixou que as lágrimas caíssem a quatro.

Puxei-a para o lado e tentei que falasse. Tentei, porque da boca dela só saiu um não quero falar disso, e um - não sou capaz, acompanhados de muitas lágrimas. Restou-me respeitar o seu silêncio. Se precisares de mim, de todos nós, conta connosco. Ainda ouvi baixinho, eu sei... Este eu sei, deu-me a certeza absoluta do facto de ela saber inequivocamente que pode contar connosco, como eu sei que posso contar com ela e com os meus colegas de equipa, e que esta única certeza é aquilo que move montanhas, transforma impossíveis num milhão de infindáveis possibilidades, muda dias cinzentos de tristeza e desgaste em turnos de gargalhadas e brincadeiras parvas, gente descontente, mal paga e mal reconhecida em gente grata à vida e aos outros.

Sabe ela. Sei eu. Sabemos todos nós. Sabem todos aqueles que passam muitas horas seguidas juntos em situações limite, em apoio e colaboração constante, em que a vida de um depende de todos, onde todos dependem da sobrevivência de cada um, e onde cada um sabe que um meio hostil só será hostil se o grupo não souber mudar o que é desconfortável para bem de todos. E isso cabe a todos. Eu por acaso sei!

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Fábrica de sonhos...




Acordar sem despertador. Vento, vendaval, ventania. Chuva miudinha. Cabelos molhados. Roupa colada ao corpo. Mãos dadas e um desafio de corrida até ao carro. Gargalhadas. Aquele beijo especial de prémio. Músicas cantadas e assassinadas em dueto. Em repeat. Prazer ao acordar e ao adormecer. 25 graus de temperatura máxima. Sol na cara. Mergulhos em água quente. Fins de tarde na esplanada. Imperiais. Um brinde a nós. Comida local. Petiscos. Experiências dos sentidos. Ver tudo. Sentir o oceano. Observar as baleias, abrir a boca de espanto e ser pequenina outra vez. Os teus braços num abraço ao por do sol. Dizer gosto de ti caso não saibas. Ouvir ao ouvido, gosto tanto de ti miúda. Conversar e não deixar perder no silêncio nenhum assunto. Rir de tudo. Rir de nada. Rir sem mais razão do que estar feliz. Viajar. Ir e chegar. Não querer regressar.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

ahhhh... o que eu já me ri.



Salsicha, Salpicha!


Hoje uma colega para mim

- Fazes noite logo?
- Não pah, não me lixes. Vou sair daqui a pouco e já tenho cenas combinadas.
- Mas devias... ando mesmo a precisar de rir e quando tu estás isto é uma festa.
  E a malta precisa mesmo é de se divertir.
- Pois... Hoje não há palhaços, vou fazer fazer uma perninha noutro circo.

E a minha vida é isto...

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Realmente pah... Reality!


Reality - Lost Frequencies

Decisions as I go, to anywhere I flow
Sometimes I belive, a time where we should know
I can't fly high, I can't go long
Today I got a million, Tomorrow, I don't know

Stop crying like you're home and think about the show
We're all playing the same game, I'm laying down along
We're unknown and wrong, special when I come
Hate will make you cautious, love will make you glow

Make me feel the warm, make me feel the cold
It's written in our story, it's written on the walls
This is our call, we rise and we fall
Dancin' in the moonlight, don't we have it all?


E sempre que oiço isto, entranha-se em mim uma vontade louca de dançar, e de rir, e de insistir em ser feliz. Definitivamente uma das minhas músicas deste Verão.

De cá, com amor...





Histórias por contar, secretas. Histórias de amor intensas, escritas com um pauzinho na areia numa tarde de sol e levadas pelo mar ao fim do dia com a maré cheia. Apagadas com a rebentação das ondas e a espuma do mar. Gravadas a sal na boca e na língua com o sabor dos beijos trocados, nas lágrimas que um dia foram segredos revelados ou verdades inconfessáveis e nas danças que dois corpos suados souberam ensaiar em noites quentes de desejo. Somatório de sonhos concretizados em cada concha apanhada no areal, repleta de viagens, aventuras, descoberta, e estrelas do mar salpicadas de códigos de amor, pintadas à mão por nós artistas do improviso e dos improváveis, de branco flocos de neve dos Alpes, ou de verde água brilhante das lagoas quentes dos Açores.

Amor tão saboroso que um dia fomos. 
Somos. 
Seremos?

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Quem tem cu tem medo...





Do one thing everyday that scares you
Eleanor Roosevelt


Eu tenho medos. Tenho muitos até. Tenho medo da doença - talvez o meu maior medo, tenho medo de perder, até porque sei bem o que é perder e sei bem o quanto dói no corpo a falta que alguém nos faz, e tenho medo do sofrimento em si... de todas as formas de sofrimento.

Dos medos em geral, combato-os de forma a que não me sufoquem, luto contra eles com todas as minhas forças e não deixo nunca que me atrapalhem a vida. Mas todos os dias somos postos à prova, todos nós, e de muitas formas diferentes. Lembro-me que quando tirei o curso de enfermagem e ainda era muito novinha sempre que tinha que acompanhar um doente para outro hospital ou apenas até ao bloco operatório começava com as palmas das mãos a suar, os joelhos a fraquejar e recordo-me de algumas vezes até me sentir agoniada... ainda a ambulância não tinha saído ou ia eu no elevador e já estava para ali com o estômago às voltas agoniada que nem uma pescada. O meu medo era falhar. E eu não podia falhar.

Ainda ontem tive um teste de medo. 

Tinha que atravessar de uma margem à outra de um rio, um aqueduto a muitos metros de altura sobre um piso de pedras meio arredondado e com 30 cm de largo, a coisa correu bem até meio, lá fui indo devagar, tentando por os pés nos sítios certos, mas quando cheguei quase a meio comecei a tremer e a ter a sensação que ia cair, e se caísse a coisa ia correr mesmo muito mal. Tive tanto medo, mas ali não havia alternativa. Voltar para trás não podia porque havia gente atrás de mim e não passávamos dois ao mesmo tempo, (e a altura mantinha-se), tinha que seguir em frente. As alternativas eram cair ou prosseguir. Parei... respirei, tentei não entrar em pânico, controlei o medo, proibi-me de olhar para baixo para apenas olhar em frente, e segui até ao meu destino, só faltavam uns 5 metros... e consegui. No final tive orgulho em mim, em ter conseguido lutar contra o meu medo.

É de pequenas vitórias que se fazem as grandes vitórias e está provado que não são os mais corajosos que são os melhores guerreiros, são aqueles que apesar de terem a percepção do medo e o respeitarem, o controlam também melhor.

Local mete nojo...





Farol do Bugio

 - Foto minhas, (tiradas com o telemóvel) já que como sempre esqueci-me da máquina fotográfica.


sábado, 8 de agosto de 2015

À ida e à volta...



 Forte do Bugio - Foto de Daniel Feliciano.

Mais uma absoluta estreia na minha vida. Forte do Bugio ou Forte Da Cabeça Seca (por ficar sempre acima da linha de agua mesmo com o enchimento das marés) - estrutura militar da Marinha Portuguesa utilizada na ajuda à navegação e no apoio à Unidade de Controlo Costeiro, localizada na foz do rio Tejo, ali a meio do nada, perto da Trafaria, distrito de Setúbal. Não acessível ao publico. Visita ao forte e ao farol conseguida por quem mora no convento e sabe o que lá vai dentro. Ir e regressar de barco num pneumático zebra cheio de caprichos. Boa companhia. Muita diversão...Há ir e voltar.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Ele há coisas assim de pegar ou largar, não há?





Vir trabalhar fardada de casa e nos pés ter umas socas de borracha. Estar a contar entrar no trabalho de manhã cedinho e sair do trabalho já noite escura, obviamente para regressar a casa e ao duche do fim de dia. E de repente... ter um convite de amigas para ir ver um espectáculo à borla num qualquer lugar perto de si, com gente super divertida e muito boa disposição. E além disso, o tal grupo que tocava, ser assim um grupo que se gosta mesmo, desde há muito tempo. E ficar roídinha de todo porque não se tem roupa decente para vestir sem ser uma miserável farda. Pensar em sair do trabalho às 22 h, ir até a casa mudar de roupa e seguir entretanto de carro até ao local do concerto é coisa para dar até às 23h e 30 na melhor das hipóteses e se calhar já não vai valer a pena. Sobrar apenas a vontade de magicar umas ideias e pensar em todas as soluções possíveis. E descobrir uma.

Levar um vestido de uma colega (que foi fardada para casa), as sandálias de outra que por acaso calçava 38 e a mim metade do calcanhar ficava de fora, e ainda um casaquinho de malha de uma miúda administrativa que combinava razoavelmente com o dito vestido. E depois ter a coragem de cagar no que os outros podiam achar e avançar sem medos para o local. Ele há coisas assim de pegar ou largar não há? Ela sabe que há! E lá foi ela toda giraça, roupa emprestada, com metade do pé a raspar no chão, mas feliz que até os olhinhos brilhavam. Pulou, dançou, cantou, abanou o esqueleto e deixou-se ir no som de dez anos atrás. Bem bom.

Se podia ser de outra forma? Podia, mas não era a mesma coisa.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Lutar contra a morte? Deves ter a mania, deves!...pfff!!!




A morte não é triste. 
O triste é que a maioria das pessoas não vive nada.

Peaceful Warrior 

Parou-te o cérebro? Pára de olhar feita parva para esse corpo sem vida. Acorda que as outras vidas não esperam. 

É preciso mexeres-te, há mais doentes lá fora, e as outras vidas não se compadecem com o teu tempo, o teu compasso de espera. Tadinha. Ninguém quer saber o que sentes, ou como te sentes, se estás frágil ou carente, triste ou doente, se tens problemas de merda ou se as palavras de ânimo que esperavas não vieram, e nem sequer o que comeste ontem ao jantar. Problema teu. Daqui a pouco chega outro doente, já recebeste o aviso do codu, segue, mexe esse cu, não te ponhas com merdinhas de menina mimada e medrosa perante a morte. Sabes bem que a vida é assim, que a maior parte das vezes a vida acaba aqui à tua frente e desta forma, sem subterfúgios, directa, dura. Sem te perguntar - Dá licença, posso entrar? O que estranhas? O que há de novo? Onde está o problema? As férias fizeram-te mal, queimaram-te a moleirinha, amoleceram-te o coração, fizeram-te pensar que o mundo era um lugar justo e o fim da linha só chegava depois de uma vida cheia, e terminava como deveria ser, no fim de tudo como seria o jogo correcto. Mas raramente é, e tu sabes muito bem isso. Desaprendeste?

Não entendo o que se passa comigo. No peito sinto um aperto, onde pensava que tinha um coração forte e empedernido capaz de resistir a tudo e preparado para todos os embates, embrulhado numa armadura de aço e cheio de defesas, afinal mora um bocadinho de carne fraca, miserável, que se arrepia com a dor, que se contrai com a proximidade da morte, que não serve para nada e que dava-me jeito substituir. Julgo-me preparada para tudo, tenho um manto de invencibilidade que me cobre, capaz de afastar todos os dramas, espero sempre o pior, mas secretamente aguardo que a vida faça das suas e me surpreenda oferecendo-me o melhor. Fico desiludida quando não o faz. Continuo sempre à espera de ver acontecer magia e talvez seja a mulher adulta que mais projectos constrói na fábrica dos sonhos. É algo muito meu. Muito mau eu sei.

Dei-lhe murros e murros no peito, espetei-lhe agulhas onde podia, tubos em sítios inimagináveis, uma e outra vez, sem hesitar, sem contemplações. Já em desespero de causa gritei-lhe - porra não faças isso, fica, tens que ficar. Não desistas. E sei que ele me ouviu. Não quis, gozou com a minha cara, olhou-me ainda nos olhos de forma desafiadora antes de se deixar ir e fez valer a sua escolha. Era mesmo esta. Lutei contra a vontade dele durante meia hora, só meia hora, pufff, não consegui lutar mais, sou uma fraca, uma porcaria que não é capaz de levar a sua avante, habituada a desistir perante a evidência de grandeza dos desafios... e a perder. 

Ainda não vos disse mas nas minhas lutas pessoais, na vida e na morte, invariavelmente perco sempre.
São coisas...

Redes de amor e linguagem...




E o que é o amor senão a pressa da presa em prender-se?
A pressa da presa em perder-se?


Ana Martins Marques

terça-feira, 4 de agosto de 2015

F de folga, e não só...



fêmea, feminina, felina, felicidade, fascinante, fagulha, feromonas, físico, felação, fala, falo, foda, folga.

Hoje é um excelente dia 
para isso tudo.

Com tempo. Já que vontade nunca me falta.

domingo, 2 de agosto de 2015

Coisas com muito significado para mim...





Sexta feira foi dia de Lua Azul, ou Lua do Amor. Seja lá isso o que for. Com mais cor ou até menos, e mais patranha vendida ou menos, é sempre um dia especial para mim. Tudo isto porque há três anos numa tarde à beira rio num final de dia em que se falava que a lua ia adquirir uma tonalidade azul sui generis, e pintar de azul o astro branco algo de incrível aconteceu. Confesso que não sabia muito bem o que era isso da lua ficar azul. Não fazia a mínima ideia, mas este final de tarde mudou a minha vida. Mudou tanta coisa em mim que hoje já nem me reconheço no que um dia já fui. Foi de tal forma que fiz um looping, aterrei sem rede e faço malabarismos para me manter neste arame que é a minha vida em equilíbrio precário, em excelente companhia, repleto de adrenalina e emoções fortes e rodeada por uma paisagem brutal, a contar estrelas e nuvens cheias de sonhos por realizar.

Once a time in a blue moon é a expressão que os ingleses usam para um acontecimento único, raro, que apenas pode acontecer uma vez na vida, cheio de mistério, grandeza, magia. Neste dia dizem que se realizam sonhos, pedem-se desejos. Não pedi nenhum há 3 anos, mas falei com a lua ontem pela primeira vez. O que pedi? Simples... tão simples quanto isto. Que não me tire o que um dia me ofereceu. 

A Lua Azul é especial porque é a segunda lua cheia do mês e este fenómeno ocorre apenas de três em três anos. A próxima Lua Azul será em 2018. Já passaram 3 anos, e questiono-me se em 2018 ainda estarei aqui neste mesmo lugar. Só a vida - cheia de segredos, e quem sabe a lua, o saberão.

Mas entretanto, somos nós de mão dada assim...

Sentada na areia encaixo-me nas tuas pernas, recosto-me no teu peito aconchegada num abraço quente, e olho as estrelas.
Tu- Sabes como se chama aquela ali ao fundo?
Rio-me baixinho, eu e as estrelas não temos grande afinidade, faço silêncio e respondo não sei.
Beijas-me com doçura o cabelo e sopras-me num sussurro as palavras. Chama-se Cassiopeia, é vizinha da Andrómeda e faz parte de um conjunto de constelações de estrelas. Ali ao lado está outra, que forma um trapézio e que se chama Ursa Maior.
Falas das estrelas, das constelações, do rasto das estrelas cadentes.
Encosto-me mais para trás, de encontro ao teu peito.
Ouço no silêncio pesado da noite o bater do teu coração, e a tua voz ao fundo. Tão ao fundo que deixo de te ouvir. Invade-me o bem estar da tua companhia, o prazer supremo desse teu abraço quente. Quero que o azul da lua contagie as minhas gargalhadas, pinte de cor os meus dias, e me faça ficar esquecida no teu peito embalada pela tua voz.

 Adormeço feliz.