sábado, 30 de abril de 2016

Este não é o meu filme, boy.



Ele é giro sim senhor. Tem conversa e tem qualquer coisa, um je ne sais quoi que me fez achar valer a pena perceber o que seria. Também é amigo de uma amiga o que me pareceu excelente. Levou-me até a jantar a Sesimbra, e coisa rara e nunca vista insistiu muito em pagar-me o jantar - cena que eu juro que não sabia o que era há muito tempo. Anos talvez. Mesmo depois de várias vezes eu repetir que não queria e que a vida custava a todos. Além disso tudo, tem uma profissão bué mas bué da gira daquelas que acrescentam nomes cheios de pinta ao nome comum. Tinha tudo para ser o tal do gostinho especial, encorpado e aromático. Só que não.

É chato como a potassa, monocórdico, repetitivo, fala sempre do mesmo assunto e cheguei a meio do jantar a pedir a todos os santinhos que os minutos andassem mais rápido para eu dar de fuga dali. Por mim tinha saltado das entradas para o café mas toda a gente sabe que depois de embarcar na viagem é difícil sair em andamento. 

Fiquei a saber que o filho faz esgrima, surf, equitação, toca piano e parece que até fala francês, além disso ainda joga futebol e só não é o CR 7 porque não usa brinco, de resto é tal e qual, igualinho. São gémeos separados à nascença. E que há uns senhores que vão aos clubes de futebol dos juniores chamados, olharapos, olharecos, olharudos ou olheiros que já lhe deitaram o olho. Nesta parte já eu tinha desligado o cérebro, e contava as riscas da camisola da gorda que estava na mesa ao lado a enfardar pão no molho enquanto com a minha melhor cara de pessoa atenta dizia que sim a tudo com a cabeça. Reconheço que este não era de todo o "meu assunto". Menos, pedia muito menos. Ele é simpático, parece-me boa pessoa mas só isso não chega. Bocejo. Poupem-me as proezas do gato maltês que toca piano e fala francês.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Invisível aos olhos...





É. Tenho saudades.

Tenho saudades do "bom dia" e de me perguntares se estou bem. Sinto a falta que me ligues, só porque te apetece contares-me as mesmas coisas. Tenho saudades que me oiças, quando é a minha vez de ter a cabeça em água. Tenho saudades do teu abraço e do teu cheiro. Sinto a falta do teu beijo e do teu sorriso. Tenho saudades do teu beijo de boa noite e de te dizer que gosto de ti. E de me dizeres que gostas de mim. Tenho saudades de me dizeres que tens saudades. Sinto a tua falta aqui.

É. Tenho saudades.
Tuas.
É. Sinto falta.
De ti.


Rita Leston - Gosto de ti, e então?



ah, a saudade. essa palavra tão portuguesa e sem tradução directa que ninguém consegue definir muito bem o que é, e que para pessoas diferentes tem significados diferentes. para mim significa ausência, falta, perda, distância, dezenas de lugares e milhares de recordações. aquela vontade de estar com alguém que partiu mas deixou muito mais que apenas o estar. não levou tudo o que lhe pertencia, ficou a essência da alma. é o nosso corpo a pedir-nos o lugar para onde quer voltar. dizem por aí que se morre de saudades, mentira. é uma grande treta, vão por mim que eu sei. se se morresse de saudades, há muito que estaria morta.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Ora bem...

As fotos possíveis tiradas por mim...




Coragem é a resistência ao medo, domínio do medo, e não a ausência de medo.
Mark Twain

Sobrevivi ao fim de semana de loucos, embora, confesso,  com alguma dificuldade. Aquilo já me parecia difícil em vídeos mas depois de estar lá muito mais difícil se tornou. Mas consegui. Esse era o meu objectivo e foi cumprido! No entanto não fizemos os 20 túneis e as 13 pontes inicialmente previstas porque apercebemo-nos que para tal as 7 horas que tínhamos estipulado com paragens para descanso, reabastecimento, refeições e etc não chegavam e iria cair a noite e nós retidos na montanha, longe de tudo e sem apoio. Tudo isto porque demorámos muito mais a atravessar cada ponte do que estava previsto, como tal arranjámos um ponto de fuga e saímos do trajecto antes do fim.

Houve gente que tirou fotos brutais, eu tirei só as fotos possíveis. Não conseguia parar no meio das pontes, queria mesmo era chegar rapidamente e inteira ao fim. Não consegui virar-me para trás, não consegui fazer rotações ao corpo para os lados e tive um medo horrível de cair. Atravessei aquela treta, direita que nem um pau, um pé à frente do outro, alinhados em linha recta a sentir os rebites da viga, sem me mexer muito e quase sem ver a paisagem, olhar para os lados, parar, ou ver o que fosse para além da linha do horizonte 10 metros à minha frente. Foi giro, está feito, mas não penso repetir. E agora vou parar um pouco, realinhar os chakras, os azimutes, corrigir a rota, acalmar a vida e relaxar um pouco. Preciso de descansar, o corpo pede-me alguma folga e paz e eu oiço o o que o meu corpo me diz.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Ou corre bem, ou corre mesmo muito mal...


La Fregeneda (Espanha)- Barca D'Alva (Portugal)

Este percurso pedestre que é conhecido pela Rota dos Túneis é feito entre a estação de comboios espanhola de La Fregeneda e a estação portuguesa localizada em Barca D'Alva. Esta linha férrea de rara beleza foi construída no século XIX e abandonada em 1985, tendo sido até a essa data a principal via de acesso entre as cidades do Porto e Paris. Este percurso é constituído por 20 túneis e 13 pontes. O estado de degradação das pontes da rota é elevado e por isso é um percurso não aconselhado a quem tem vertigens ou seja inexperiente em trilhos. A distancia entre a estação espanhola e a portuguesa é de 17 km, 17 km de uma beleza incrível... e túneis cheios de morcegos.

Este fim de semana vai ser por aqui. Somos muitos num grupo animado de gente que gosta de metas e de as superar. Quarenta doidos para ser precisa. Esgotámos este fim de semana a Pousada da Juventude lá do sitio, não há lugar nem para mais um, e sei também que o mini mercado lá da aldeia reforçou o stock de bens. Vai ser divertido, vai ser sobretudo para testar capacidades, superar medos e dificuldades, não das alturas, já que não tenho vertigens, mas medo de sei lá porque razão tropeçar, cair, desequilibrar-me e vir por ali abaixo. A coisa mete-me respeito! Para além dos obstáculos reais - os físicos - todos nós vamos ultrapassar metas nossas, obstáculos pessoais e fazer uma coisa totalmente nova. Eu confesso que tenho medo. Já olhei dezenas de vezes para o mapa do trajecto - 30 km no total divididos por grau de dificuldade e por 3 dias e 3 trilhos diferentes - e confesso que deste túnel que termina numa ponte ferroviária praticamente destruída tenho medo. Medo mesmo, não é receio. Quando me perguntaram se queria fazer seguro (a maioria fez) respondi que não, sobreviver a uma queda aqui é impossível por isso ou corre bem ou corre mesmo muito mal. Sem meio termo. Espero a bem da minha saúde que corra bem.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Puta da criancinha...





Ele deu entrada há vários dias na emergência do meu hospital. Muito mal tratado por acaso. Fracturas várias. E mais uma lesão no baço, complicada, que implicou uma ida ao Bloco Operatório. Diz a polícia que só não morreu por acaso, e porque os vizinhos "ouviram lá em casa a partirem tudo". É tio de uma criança de 6 anos que foi transportada há dias ao Instituto de Medicina Legal para fazer exames porque numa conversa com a mãe afirmou que o tio lhe tinha posto a pilinha no pipi e feito coisas e deitado muito sangue (poupo-vos os detalhes da nojice). Perante o cenário horrível confrontaram de imediato o tio que negou tudo e afirmou ser incapaz de semelhante acto, apresentaram queixa por abusos sexuais, e a criança foi levada para exames médicos, não sei exactamente se por esta ordem. Tivemos hoje a informação que após perícia à criança e exames médico legais o resultado de tudo se revelou negativo. Confrontada a criança com os factos, riu-se, e confirmou que era tudo mentira. A razão para tal foi que o tio lhe tinha batido porque ela estava a empurrar o irmão, como tal tinha inventado tudo para o pai bater no tio também.

E não é que resultou? Agora se o tio que tem apenas 38 anos se safa com vida disto, e se o pai se safa de uns bons anos de cadeia... bom isso são outros quinhentos.

Deixai vir a nós as criancinhas!

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Explicado e bem, como se eu tivesse 5 anos...



Bastar ler para perceber o que muitos ainda não perceberam. 



Interessante como com poucas palavras e em meia dúzia de linhas se faz uma previsão muito rigorosa sobre quem anda a enganar quem, quem ainda não enganou quem, e quem irá brevemente enganar quem. Magnifica futurologia sobre este admirável mundo nosso, aquele que gira em torno do ouro negro. E assim vai indo o mundo.

Chegou a minha prima...Vera.





Collect moments not things!

Trilho de 20 km pelas dunas, desde a Fonte da Telha à Lagoa de Albufeira com passagem pela Arriba Fóssil e posterior regresso pela Mata da Apostiça. A boa companhia foi a mesma de sempre, a entreajuda e as gargalhadas também, e até a nossa "Prima Vera" chegou de mansinho, deu um ar de sua graça e brindou-nos com um dia de sol deslumbrante. Quanto à paisagem... bom a paisagem superou tudo e todos, ofereceu-nos um espectáculo irrepreensível e seguramente inesquecível.

sábado, 16 de abril de 2016

Dormir sem pressas...




A Maria dormita no cadeirão, meia adormecida, de cabeça apoiada na mão. Tem os olhos fechados mas consegue-se perceber que estão inchados, cheios de papos, por baixo vejo o contorno das olheiras fundas, arroxeadas, quase negras.Tem os lábios meios entreabertos, e neles o desenho de um sorriso triste. Apercebo-me que mesmo a dormir, sofre. E eu sofro com ela. Apresento-vos a rapariga mais teimosa que já conheci. Tem 34 anos, e já há vários dias que dorme sentada num quadrado de napa preta, remendado com adesivo hospitalar, duro, meio esquisito, que uns chamam de sofá, outros de cadeirão ou mesmo de poltrona, mas que a mim me parece só uma cadeira um pouco mais larga, igualmente desconfortável e que toda a gente teima em dar um nome pomposo. Espera por nada, espera por tudo, espera por um milagre, mas não desiste. Numa teimosia doce de quem ama.

O marido da Maria é professor, colocado a 150 quilómetros, sortudo diz a maioria das pessoas, teve trabalho, foi colocado o que é uma sorte e mesmo assim não ficou muito longe de casa. Vai e vem para Lisboa todos os dias, numa rotina pesada, dolorosa, de quem sai de casa em madrugadas escuras e regressa ao fim do dia cansado mas a tempo de cuidar dos filhos, jantar, ajudar nas tarefas domesticas, corrigir testes, e ainda amar a mulher à pressa. Era sexta-feira, já se sentia o cheirinho agradável do fim de semana, queria chegar mais cedo, saiu ao inicio da tarde rumo a Lisboa, a chuva terrível, o piso perigoso, a falta de visibilidade e o cansaço acumulado, juntos com a continua e interminável extensão de alcatrão da auto estrada chamaram o sono, e os olhos fecharam-se-lhe por um minuto. Só um minuto mesmo. De fugida. E o marido da Maria adormeceu. Despistou-se, sofreu um traumatismo craniano grave, e está em coma.

Agora dorme descansado, profundamente, sem pressas, num sono do qual já não acredito que acorde.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Realidade...




Sinto a suavidade do mesmo sonho, o odor suave da mesma pele. Trinco os lábios onde reconheço o sabor dos mesmos beijos. Entrego-me ao beijo com os braços, a boca e o coração. Estremeço feliz.

Fecho os olhos e volto a sonhar.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Estórias de hospital. Em mundo real...





São três e meia da tarde ainda vou a entrar ao serviço e já ela ali está sentada na sala de espera. Folheia uma revista. Aguarda a visita das quatro da tarde. Chama-se Vanda. Já lhe conheço os gestos. Beija-o primeiro na testa, faz-lhe uma festa suave na mão, depois na cara, ajeita-lhe a roupa, compõe-lhe a almofada e de seguida pergunta-lhe: então hoje como estás? ouve a resposta, sorri, acrescenta - tens que ter calma, muita paciência, estas coisas demoram mas vais ficar bom... e depois fala sem parar do filho. O que fez, as palavras que já diz, que perguntou pelo pai. Eu passo entre o espaço da cama e vejo-o atento e confortado pela proximidade do mundo de casa. Está feliz. Sai quando a hora da visita termina. Repete o ritual da chegada, um beijinho na testa, uma festa na mão, um toque de dedos na cara. Despede-se a dizer: Vou agora a correr buscá-lo ao infantário e dar-lhe banho. Ontem trouxe uma foto dele e do filho. O pequenito segura num boneco, acho que é um macaquinho de pelo. Pediu-nos para a pendurar sobre a cama. Abana agora metida dentro de uma mica, presa por uma fita de nastro ao suporte do cortinado.


São oito horas da noite. Chega apressada. Sem tempo. Vem sempre a esta hora. Traz encaixado nos braços um dossier, a mala à tiracolo, na mão a pasta do portátil. Chama-se Cristina. Diz boa noite, pergunta: posso? Sei que não são horas mas só consigo vir a esta hora. Peço desculpa. É desculpa. E todos nós sabemos. Mas dizemos-lhe que sim, pode entrar. Entra e nem despe o casaco, atira-se para cima dele, beija-o na boca, demoradamente, e deixa o corpo permanecer em cima dele por minutos. Ele diz-lhe: Sabes bem, cheiras tão bem. Puxa uma cadeira para junto dele e dá-lhe a mão. Ficam assim de mão dada. Ela fala baixinho e ele ri-se. De vez em quando ela enfia a mão por debaixo da roupa e acaricia-lhe a pele. Chega o tabuleiro com o jantar. Ela dá-lhe a comida. Põe um bago de uva na boca e beija-o. Da boca dele escorre sumo de uva. Riem-se mais. Despede-se com um vê lá se ficas bom que temos muitas coisas giras para viver. Ele pergunta-lhe: Voltas amanhã? Ela invariavelmente responde: Sabes bem que sim.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Infância...


- Aonde fica a saída? perguntou Alice ao gato que ria.
- Depende. 
- Depende? Depende de quê? 
- Depende de para onde tu queres ir. 
- Mas eu não sei para onde quero ir.
- Sendo assim qualquer caminho serve.

Alice no País das Maravilhas.

Infância é sinónimo de inocência e magia. Palavras despudoradas, acções impensadas, sem risco, sem maldade ou segundas intenções. Palavras ligeiras do coração para a boca, gestos fáceis, gargalhadas genuínas. Fui eu que um dia fiz uma composição em que falava da minha professora, exprimia a minha enorme simpatia por ela (o que era de todo verdade) e no final rematava a escrita com "tenho só pena que ela use peruca" - a senhora usava o cabelo armado, atolado em laca o que na minha inocência me parecia pouco natural - e em consequência disso fui chamada ao gabinete da directora do colégio e advertida por falta de respeito. Outra vez, numa aula de Moral chamei delicadamente a atenção do Sr. Padre para o facto de ter a sola do sapato com um buraco (achei que avisá-lo era de valor) e pelo facto fui mandada de dedo em riste para a rua. Ou outra ainda, pequenita, não mais de 3 anos ; vi uma senhora no café de pantufas e exclamei bem alto : Olha mamã, umas putas! - palavra que para mim abreviava pantufas, pus meio mundo indignado com a ousadia.

Ah que saudades, de cuspir os mil bagos de arroz enquanto explodia de riso.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Instantes do fim de semana passado...

Estar perdido é bom. Significa que há caminhos.
Mia Couto

Foi um fim de semana de surpresa absoluta. Íamos preparados para muita chuva mas não para muito frio. Mas a vida gosta de surpresas. As previsões meteorológicas não sugeriam neve mas contrariamente ao previsto nevou imenso. Inacreditavelmente nevava abundantemente em Abril, e nós não tínhamos equipamento para subir à Serra da Freita e permanecer na montanha com temperaturas de -1 grau e um vento gelado que cortava o ar. Assim por questões de segurança passámos ao plano B, ficámos num alojamento de Turismo Rural, desistimos de subir à Frecha da Mizarela pela altitude elevada com provável agravamento das condições climatéricas, o enorme risco de hipotermia, quedas devido ao piso escorregadio e optamos por aproveitar a paisagem única e pelo descanso. Não foi nada do que planeamos e que levávamos desenhado de Lisboa, mas nos trilhos como na vida a natureza é soberana, ela dita as regras e há que saber contornar os obstáculos com lucidez e adaptar a viagem às condições do trajecto.

Deixo aqui alguns instantes bons de guardar.








segunda-feira, 11 de abril de 2016

As melhores frases do dia da minha melhor amiga...


Os homens são como os autocarros, não precisas correr. Espera... Passado um bocado vem outro.
...

-Lembra-te dele como uma zebra.
-Uma zebra???
-Sim, são o primeiro pasto dos leões. A seguir é que vem a comida a sério. Os leões sabem disso.
...

Tás parva. A lembrar-te dele sempre. Segue.
Mastiga e deita fora. Chiclete!

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Estar vivo nem sempre é o contrário de estar morto...




Fim de semana à porta. Sem portas, sem Janelas, sem paredes e sem muros. Ao ar livre. Mochila pronta com o essencial, e o essencial é demasiado porque o tempo está instável o que implica equipamento extra, sobrecalças impermeáveis, protecção de mochila, capa impermeável, polainas. Mais peso portanto. E a mim no me gusta porque me custa! Fim de semana inteirinho no Portugal lá de cima. Rumo a Arouca, Passadiços do Paiva, Frecha da Mizarela. O último dia vai ser um dia muito difícil, 10 quilómetros sempre a subir por um trilho na rocha, montanha acima, muito lá em cima, directo a uma das maiores cascatas naturais do país. Dizem que o enorme esforço vale a pena. E eu acredito que tudo vale a pena quando a alma não é pequena. No final, se sobreviver, espero poder contar aqui se valeu a pena ou não. Tenham um excelente fim de semana. Vivam-se enquanto podem.

Breve, e leve...




somos o que somos 
e o que fomos.
amantes,
instantes.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Prémio da abordagem masculina mais idiota de sempre - Abram alas para o Noddy...





No local de trabalho...

um colega fala por cima do meu ombro, baixinho, com a boca quase encostada ao meu ouvido:

- Vamos trocar fluídos? Aqueles que se trocam quando se encontram os cromossomas XY e os XX?

- Chichi? Agora não tenho vontade! Baza pah que estou cheia de trabalho.


Ganhou o prémio da abordagem mais idiota. De mim, distância. Fujo a sete pés de gente que acha que pelo facto de não se ter namorado estamos já de pernas abertas.

Tenho um poderoso íman para cretinos. Só pode!

terça-feira, 5 de abril de 2016

Hora do xarope...



No meu hospital há por lá...

a solidão dos velhotes abandonados numa cama de hospital e mais os quilos de fraldas borradas,
os adolescentes bêbedos que me vomitam os pés,
as bebedeiras da malta da queima das fitas e das festas de finalistas,
as velhinhas simpáticas que me chamam ó menina,
as ciganas que me chamam ó dona,
os nem uma coisa nem outra mas que me chamam ó vizinha,
as gajas mal humoradas que dizem alto e bom som que são elas que me pagam o ordenado,
os estrangeiros que tropeçaram na calçada portuguesa e me fazem arranhar as línguas do mundo,
os meninos engraçadinhos que dizem a que horas sais? Posso esperar por ti?
os body packers que garantem que foi só desta vez, tiveram foi azar,
os G5 (código profissional para garrafões de 5 litros, alcoólicos topo de gama) já nossos conhecidos e quase sempre os mesmos a cada semana, 
as gajas boas de decotes grandes e mini saia tipo cinto que são homens e chamam-se Augusto ou Edson,
as gajas agredidas que choram que se fartam mas perdoam sempre e voltam sempre pelo mesmo motivo,

os que só querem desabafar,
os que sofrem em silêncio sem falar e sem nunca reclamar,

os de Leste que tentam beber os frascos de álcool puro que andam por lá em cima das bancadas enquanto nos distraem com tretas sem importância,
os árabes que convictamente se recusam a baixar as calças em frente de uma mulher,
os que engoliram uma espinha e os que engoliram a dentadura, 
o ladrão apanhado pela polícia que engoliu um fio de ouro, 2 medalhas da Nossa Senhora e 1 anel,
os do estabelecimento prisional que engoliram uma lâmina da barba e uma colher de sopa e estão ali para as curvas e para as fugas,
os toxicodependentes com overdoses,
os pastilhados regressados da noite,
os mendigos que procuram um tecto e as sobras das nossas ceias,
o agente que garante que não agrediu ninguém mas tem uma fractura de boxeur no 5º metacárpico e com ar de anjo afirma que caiu,
as senhoras com os olhos negros mas que ah e tal, bateram na chave do roupeiro,
ou o sr.qualquer coisa que meteu uma courgette no cu mas quer convencer-me que se sentou em cima dela: Foi um acaso menina!



Por último aparecem os outros todos. Os que tiveram muito azar, e os que apesar de tudo tiveram muita sorte. Não existem dias iguais. Nenhum dia se repete.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

A talhe de foice...



Veio como foice.
Foice, como veio.

Marla de Queiróz


tu foste-te. eu ia-me já se pudesse. assim vou-me só indo. devagar no ir. se ele não se fora e nós ainda nos foramos, de certeza que ele ia e vinha muitas vezes. sempre a vir. uma e outra a seguir. oh, como o meu corpo gostava disso: sussurrava-me, vai-te a ele! como era bom na hora de vir. agora é hora de ir.

Postais a cores...







O fim de semana passou a voar. Tão rápido que quase não o consegui saborear. São Pedro foi meu amigo e não me ofereceu chuva - o que já não foi mau - coisa rara e nunca vista, já que por cá segundo sei choveu a sério, quase um dilúvio. Apanhei umas pingas ontem. Coisa pouca. Aproveitei a calma da paisagem, aproveitei a companhia dos amigos, senti a natureza. Enchi-me de energia para uma semana de trabalho demasiado dura porque há que pagar os turnos que me fizeram no maravilhoso do fim de semana. Estou a gostar demasiado disto de ter fins de semana livres coisa que raramente eu conhecia. Muito raramente. Um fim de semana livre de cinco em cinco semanas. E comecei a ver os fins de semana com outros olhos. Olhos de ver mais longe, e mais ao longe, e muito mais perto de quem acha que sou do grupo e faço falta. Daqueles que dizem que sem as minhas parvoíces, quedas e gargalhadas as aventuras não são a mesma coisa. Começo a perceber o que tenho andado a perder. Estou a pensar muito a sério em fazer mais uma mudança na minha vida. Projectada para acontecer este ano. Sou de mudanças profundas, vamos ver o que vai acontecer.

Para o próximo fim de semana há mais. Passadiços do Paiva e subida ao topo da Frecha da Mizarela.