Ele é giro sim senhor. Tem conversa e tem qualquer coisa, um je ne sais quoi que me fez achar valer a pena perceber o que seria. Também é amigo de uma amiga o que me pareceu excelente. Levou-me até a jantar a Sesimbra, e coisa rara e nunca vista insistiu muito em pagar-me o jantar - cena que eu juro que não sabia o que era há muito tempo. Anos talvez. Mesmo depois de várias vezes eu repetir que não queria e que a vida custava a todos. Além disso tudo, tem uma profissão bué mas bué da gira daquelas que acrescentam nomes cheios de pinta ao nome comum. Tinha tudo para ser o tal do gostinho especial, encorpado e aromático. Só que não.
É chato como a potassa, monocórdico, repetitivo, fala sempre do mesmo assunto e cheguei a meio do jantar a pedir a todos os santinhos que os minutos andassem mais rápido para eu dar de fuga dali. Por mim tinha saltado das entradas para o café mas toda a gente sabe que depois de embarcar na viagem é difícil sair em andamento.
Fiquei a saber que o filho faz esgrima, surf, equitação, toca piano e parece que até fala francês, além disso ainda joga futebol e só não é o CR 7 porque não usa brinco, de resto é tal e qual, igualinho. São gémeos separados à nascença. E que há uns senhores que vão aos clubes de futebol dos juniores chamados, olharapos, olharecos, olharudos ou olheiros que já lhe deitaram o olho. Nesta parte já eu tinha desligado o cérebro, e contava as riscas da camisola da gorda que estava na mesa ao lado a enfardar pão no molho enquanto com a minha melhor cara de pessoa atenta dizia que sim a tudo com a cabeça. Reconheço que este não era de todo o "meu assunto". Menos, pedia muito menos. Ele é simpático, parece-me boa pessoa mas só isso não chega. Bocejo. Poupem-me as proezas do gato maltês que toca piano e fala francês.