quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Lá onde o Diabo perdeu as botas depois de três dias a escorregar por uma tábua abaixo...



Ruidoso, devastador, indomável, perigosamente belo


Batem, batem levemente como quem chama por mim.... Fui ver, era a chuva, o frio, e o nevoeiro a pairar.

Chegar ao fim do dia à simplicidade de um abrigo de montanha. Inserido na beleza da paisagem, acolhedor, munido apenas do essencial.


Estive no fim do mundo, lá no cú de Judas, em casa do diabo mais velho ou onde o gato perdeu as botas. São 7 horas de viagem para lá chegar, mais de duas horas fora da total civilização, em estradas de montanha, cheias de curvas e contra curvas, precipícios pela margem, animais selvagens a caminharem ao lado do carro e a olharem de olhos esbugalhados para mim como se eu fosse uma extra terrestre e tivesse descido à terra como que por milagre divino, e uma boa centena de quilómetros a escorregar por uma tábua abaixo. As rádios só hablam espanholito, a Tv dá mais chuva e riscos que imagens, e quase sempre os locutores falam falam mas não sai som, mas se se souber fazer interpretação pelos lábios ainda se percebe as principais noticias, a Internet chega até nós a carvão molhado e é uma perfeita anedota, e as redes de telemóvel são mentira, duas redes diferentes no bolso do casaco e sim senhora funcionavam bem, faziam de contrapeso para me equilibrar à direita e à esquerda. 

S. Pedro não foi meu amigo, atirou-me com chuva com fartura, baldes e baldes dela, como se estivesse quase a ser mergulhada e depois afogada, e a fazer glú-glú. No entanto sou mesmo teimosa e não deixei de fazer o que queria, visitar a Cascata do Arado e da Fraga, a Barragem do Lindoso e a de Vilarinho das Furnas com a aldeia submersa, o miradouro da Pedra Bela, o Castelo do Lindoso, Soajo e os espigueiros - as típicas casinhas de pedra para armazenar os cereais. Mas juro que no final de cada dia, sempre que chegava ao Bungalow e me retemperava num demorado duche quente até as cuecas que trazia vestidas tinha molhadas. Levei uma parka impermeável mas chuva forte, daquela a sério, tocada a vento, não há parka que lhe resista, e nem sequer os melhores ténis de caminhada. Nada se salvou...

Excepto a minha alma que ficou mais lavada e em paz comigo mesma. Acho que me perdoei a mim própria e esse era o equilíbrio que procurava. Afinal antes de alguém ter que viver comigo, sou eu que tenho que viver comigo mesma, mesmo quando não sou o que queria ser e me desiludo a mim própria. Regressei preparada para o pior. O pior afinal não foi tão mau assim. Foi um tépido assim-assim. Um meio termo que não é mau mas também não presta porque não chega a ser bom e eu não sou rapariga de me contentar com o morninho do deixa andar, do assim assim, 

Vou esperar para ver se o frio que trouxe na pele, as mãos geladas, a chuva agarrada às pestanas, o cabelo colado à cabeça e o vazio imenso que senti no peito durante estes dias, rodeada do silêncio e da natureza, só e mais que só que nunca, me aclararam as ideias e fizeram perceber que numa equação em que existe um X e um Y ambos são parte da equação, e funcionam como problema ou como solução em igual parte e com igual responsabilidade.

Nunca fui boa aluna a matemática. Confesso que sempre precisei de explicações e só muito a custo consegui entender os símbolos matemáticos e a função de cada um. Espero ter aprendido a lição. Não repetir jamais o erro. Este pelo menos. Se não aprendi chumbo nas aulas da vida e sinceramente é a última coisa que quero para mim. E nesse caso... 

So, help me god!


12 comentários:

  1. Estiveste em alguns dos mais belos lugares deste país!! ;-) Para a próxima tens que ir com mais calor para poderes tomar banho por lá! Eu já tomei e é fantástico! ;-)

    Beijinhos

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    1. eusouassim: Estive num local que é atravessado pelo Rio Caldo, nasce em Espanha e entra em portugal e este rio tem uma particularidade, a água é quente, morna daí o nome do rio. O Gerês é lindo!

      Beijinhooooo

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  2. Em 2002 fiz uma viagem por essas bandas e conheço bem essa região... tem paisagens de cortar a respiração, não achas? Para mim foram quatro dias de um género de "back to basics" e puro relax.

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    1. Garruk: A paz, o silêncio da montanha, a beleza do meio envolvente. Respira-se tranquilidade. Já conhecia o Gerês mas foi um regresso aos locais que já não recordava.

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  3. Gostava muito de fazer o mesmo e visitar esses lugares, mas com alguém porque sozinho e isolado já eu passo todos os meus dias.

    Beijos :D

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    1. PM: É uma opção que tens que fazer.. eu tenho. Ou vou sozinha ou simplesmente não vou. Opto sempre por ir, mas claro que acompanhado é muito melhor, é possível repartir condução, custos da viagem e claro o mais importante, a boa companhia.

      Beijoooo
      Anima-te pah... estás quase cá:)))

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  4. O meu lindo Gêres, adoro e sou apaixonada, quem lá vai vem completamente em paz de espírito.. a mim basta-me 1:30 de carro, tenho pena de não ir tantas vezes quanto gostaria, mas sempre que posso é a minha escapadinha preferida. tiveste muito azar com o tempo, aquilo é lindo com o sol nas montanhas, poder subir e respirar a paisagem que corta-nos a respiração de tão bela que é, percorrer os caminhos pedestres, é bom para ver as águas cristalinas dos riachos.. aquele verde todo.
    Apesar de tudo, acho que ficaste como nova, faz sempre bem mudar de ares, fizeste uma espécie de retiro ao mundo e de encontro com a natureza. :D

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    1. aNaMartins: Tive azar com o tempo... choveu os dias todos, não deu para fazer nenhuma caminhada pois os trilhos estavam alagados e perigosos, não der para andar de bike... enfim. fiz o que foi possível e não foi nada mau mas gostava de lá voltar com alguém que conhecesse bem aquilo... perdi-me várias vezes.

      Beijinhooooo miúda

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  5. Eu adoro o Gerês, já me ajudou a perceber essa tal matemática, mas também já me confundiu ainda mais.

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    1. Loira: Ajudou-me a perceber o que quero.. deu-me paz e mudei de ares. cortei com a rotina e com o meu habitat.

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Diz aí nada ou coisa nenhuma.