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Ruidoso, devastador, indomável, perigosamente belo |
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Batem, batem levemente como quem chama por mim.... Fui ver, era a chuva, o frio, e o nevoeiro a pairar. |
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Chegar ao fim do dia à simplicidade de um abrigo de montanha. Inserido na beleza da paisagem, acolhedor, munido apenas do essencial. |
Estive no fim do mundo, lá no cú de Judas, em casa do diabo mais velho ou onde o gato perdeu as botas. São 7 horas de viagem para lá chegar, mais de duas horas fora da total civilização, em estradas de montanha, cheias de curvas e contra curvas, precipícios pela margem, animais selvagens a caminharem ao lado do carro e a olharem de olhos esbugalhados para mim como se eu fosse uma extra terrestre e tivesse descido à terra como que por milagre divino, e uma boa centena de quilómetros a escorregar por uma tábua abaixo. As rádios só hablam espanholito, a Tv dá mais chuva e riscos que imagens, e quase sempre os locutores falam falam mas não sai som, mas se se souber fazer interpretação pelos lábios ainda se percebe as principais noticias, a Internet chega até nós a carvão molhado e é uma perfeita anedota, e as redes de telemóvel são mentira, duas redes diferentes no bolso do casaco e sim senhora funcionavam bem, faziam de contrapeso para me equilibrar à direita e à esquerda.
S. Pedro não foi meu amigo, atirou-me com chuva com fartura, baldes e baldes dela, como se estivesse quase a ser mergulhada e depois afogada, e a fazer glú-glú. No entanto sou mesmo teimosa e não deixei de fazer o que queria, visitar a Cascata do Arado e da Fraga, a Barragem do Lindoso e a de Vilarinho das Furnas com a aldeia submersa, o miradouro da Pedra Bela, o Castelo do Lindoso, Soajo e os espigueiros - as típicas casinhas de pedra para armazenar os cereais. Mas juro que no final de cada dia, sempre que chegava ao Bungalow e me retemperava num demorado duche quente até as cuecas que trazia vestidas tinha molhadas. Levei uma parka impermeável mas chuva forte, daquela a sério, tocada a vento, não há parka que lhe resista, e nem sequer os melhores ténis de caminhada. Nada se salvou...
Excepto a minha alma que ficou mais lavada e em paz comigo mesma. Acho que me perdoei a mim própria e esse era o equilíbrio que procurava. Afinal antes de alguém ter que viver comigo, sou eu que tenho que viver comigo mesma, mesmo quando não sou o que queria ser e me desiludo a mim própria. Regressei preparada para o pior. O pior afinal não foi tão mau assim. Foi um tépido assim-assim. Um meio termo que não é mau mas também não presta porque não chega a ser bom e eu não sou rapariga de me contentar com o morninho do deixa andar, do assim assim,
Vou esperar para ver se o frio que trouxe na pele, as mãos geladas, a chuva agarrada às pestanas, o cabelo colado à cabeça e o vazio imenso que senti no peito durante estes dias, rodeada do silêncio e da natureza, só e mais que só que nunca, me aclararam as ideias e fizeram perceber que numa equação em que existe um X e um Y ambos são parte da equação, e funcionam como problema ou como solução em igual parte e com igual responsabilidade.
Nunca fui boa aluna a matemática. Confesso que sempre precisei de explicações e só muito a custo consegui entender os símbolos matemáticos e a função de cada um. Espero ter aprendido a lição. Não repetir jamais o erro. Este pelo menos. Se não aprendi chumbo nas aulas da vida e sinceramente é a última coisa que quero para mim. E nesse caso...
So, help me god!