segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Comi calhaus ao almoço. Comi calhaus ao jantar... ai o raio dos calhaus já me estão a enfartar.





A vida serviu-me pedras. Não uma sopa de pedra. Não os costumeiros limões que isso para mim é para meninos, habituada que estou a eles e a emborcar limonada azeda de penalty. Nhaaa... A vida esmerou-se. Banqueteou-me com um refinado prato de pedregulhos, cheios de terra, de paus, de palhas, de merda e de lama. E disse-me: Come! Reagi de imediato. Rebelde como sou - respondi altiva - Não como. Não como essa merda! E atirei com o prato para longe.

Chorei, arrepelei-me, chorei mais baba e ranho e a vida impávida manteve a escolha. Come! - Não como! Vou dar a volta a isto, dou sempre a volta a tudo, vou fechar os olhos e transformar a merda dos calhaus em sonhos, em estrelas a brilhar, em gargalhadas. Come! - Disse a vida. Não há mais nada. E enquanto não comeres isto, não há gargalhadas, nem flocos de neve, nem abraços quentes, nem beijos de ir ao céu, nem fins de tarde em esplanadas. - Não como! Já disse que não como essa merda. E estivemos assim à luta durante dias, se calhar meses, a mim pareceu-me uma vida. O prato de pedregulhos sempre que eu olhava lá estava parado à minha espera.

Não há volta a dar. Não há saída possível. Não há como adiar ou fugir. Percebi finalmente e com muita dor que não há alternativa às pedras. Timidamente, envergonhada, soprando de raiva, com as lágrimas a caírem a quatro trinquei a primeira pedra. Mastiguei, mastiguei, e a vida assistiu divertida. Acrescentou: Vês, quando eu digo que comes, comes mesmo. Já sabes o que te espera.

As pedras ainda aqui andam. Não vão para baixo de maneira nenhuma. Já as empurrei com ânimo, com a minha irredutível vontade de ser feliz, acrescentei-lhes alguns sonhos a realizar, uma semana na neve agora em Fevereiro, uma viagem à Polónia daqui a uns meses, uma semana de trekking com a malta das caminhadas no Gerês mas o prato está cheio delas e continua lá à minha espera.

Não sei como dar a volta àquilo. 

13 comentários:

  1. Se não há volta a dar...tenta passar por cima delas, comer pedras dá cabo dos dentes, eu sei bem do que falo no que toca a dentes.

    Por aqui já há neve mas tem sido perigoso...e bonito por acaso.

    Beijos ;)

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    1. PM: Adoro neve. Vou regressar à neve este ano com os meus amigos das caminhadas. Este ano vou para os Pirenéus. Mais perto e mais barato que os Alpes suíços.

      A vida só me serve pedras... Já chega! Estou farta!

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  2. Os ingleses têm um ditado: «quando a vida nos dá limões... fazemos limonada com eles» Espremer as pedras é mais difícil, mas não impossível: a baixa do preço do petróleo é porque finalmente retiram petróleo das pedras. Quem sabe se nessa pedreira não haverá petróleo, diamantes, ou mesmo, quem sabe, alguma limonada?

    Um bom dia, AC :-)

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    1. Xilre: Peço à vida forças para que rapidamente me faça suportar tudo, digerir as pedras como ela muito bem quis e depois da minha tarefa cumprida me faça outra vez prosseguir...e sorrir que eu sou uma raparigas de gargalhadas e sonhos.

      Bom Xilre
      Obrigada pela tua visita. Por aqui não aprendes anda isto é um blog de emoções.

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  3. É transforma-los em brita, areia ou mesmo pó! Difícil será porém, mas se há quem acabe por ficar calejado de andar por cima de pedras sem se ferir, por certo que quem as come acontecerá o mesmo, quiçá, até lhes note algum sabor exótico!

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    1. L'Enfant Terrible: Percebi (já tarde) que quanto mais depressa comesse as pedras mais depressa me via livre delas e estava disponível para saborear outras coisas... decidi que era melhor enfardar aquilo tudo de uma assentada mesmo com a dor de dentes, de estômago e a raiva da certeza de não merecer tamanha injustiça. Mas a vida é assim, não é justa. O prato de pedras já foi agora espero que a vida me ponha outras iguarias mais saborosas à frente. Vai pôr.

      Beijinho. Hoje levas um. Estou uma mãos largas.

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  4. Ac
    conheces este poema ?


    No meio do caminho tinha uma pedra
    tinha uma pedra no meio do caminho
    tinha uma pedra
    no meio do caminho tinha uma pedra.

    Nunca me esquecerei desse acontecimento
    na vida de minhas retinas tão fatigadas.
    Nunca me esquecerei que no meio do caminho
    tinha uma pedra
    tinha uma pedra no meio do caminho
    no meio do caminho tinha uma pedra

    um beijo do
    Joaquim

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  5. Muitas vezes os teus textos podiam ser palavras minhas. Já fico triste quando te sinto triste ou algo não corre de feição. O que conforta nestas alturas? Não sei mas daqui envio um abracinho. Ivone

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    1. Ivone: Obrigada pelo abracinho, nunca é demais um gesto de simpatia. Começo a erguer me a vida faz se de quedas. Cair e levar... E rir de nós próprios.

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    3. Levantar* correcção de erro.

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Diz aí nada ou coisa nenhuma.