sexta-feira, 29 de maio de 2015

Traquitanas de vida...


"Somos bagagem. Somos feitos de coisas que trazemos da vida. Carregamos connosco todas as alegrias e desventuras que já conhecemos. Todas as lágrimas choradas e todos os risos sinceros. Todos os tombos que demos e as nódoas negras que os recordam. Todas as vitórias conseguidas e o suor que as fez alcançar. Todos somos bagagem. Pedaços de coisas que conquistámos. Fragmentos de experiências. Peças de um todo, que sozinhas não fazem sentido. Todos trazemos bagagem. Malas cheias de sonhos. Caixas com sorrisos. Pacotes de tristezas. Sacos com saudades. Caixotes com conquistas. 

Todos temos bagagem. Emocional. Material. Sensorial. 

Somos bagagem. E precisamos de que o outro esteja disponível para nos ajudar a desempacotar caixotes. Mas, antes disso, precisamos de estar disponíveis para aceitar a bagagem do outro. Somos bagagem. Eu e tu. E, a tua bagagem, é como se minha fosse. Basta entrares e pousares as malas. E recostares-te."


- Rita Leston -


Fui arrumando vida em caixas, guardando-as em prateleiras no sótão do meu eu, etiquetadas, verdadeiramente documentadas para cada uma das recordações, momentos, pessoas. Estão lá, sei-as lá para quando me apetece, regresso lá apenas para ser feliz. Caixas e mais caixas de sorrisos, de gente que passou pela minha vida, deixou marca e fez-me muitíssimo bem. Alguns acredito até que nunca tenham sequer percebido a dimensão do que foram para mim.  E dos outros AC que também os houve, daqueles que te deram momentos menos bons, que não te aceitaram nem entenderam, que não te viram para além do que está visível aos olhos? Guardo-os em caixas herméticas, muito mais pequeninas felizmente, esquecidas num lugar bafiento na ultima prateleira de todas, cheia de pó, aquela onde só chego em bicos de pés, quando me estico muito por vontade própria e onde raramente regresso.

Dei por mim a carregar cada vez menos peso, a vantagem disso é que é muito mais fácil viajar para onde quero, ou mudar-me de onde não quero. Não carrego coisas inúteis, não puxo carroças com gente sentada, não desloco mais peso que o meu próprio peso, muito menos carrego mágoas. Custou ao principio a libertar-me do que julgava essencial, senti a falta do que pensei imprescindível, mas fui atirando contrapesos ao mar e aprendi a saborear a leveza de quem vive com pouca traquitana. E o menos é mais. E o mais é super. Um supremo luxo acreditem.

12 comentários:

  1. Gosto muito do que escreves e o como o escreves. És de facto especial. Única.
    Desculpa o atrevimento do comentário.
    Beijinho.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Anónimo: Todos somos especiais à nossa maneira, todos somos únicos. Ninguém é excepcional ou perfeito. Tenho mais defeitos que qualidades..

      Obrigada pela simpatia
      Beijinho

      Eliminar
  2. Respostas
    1. Mar Arável: Quem vive com muito peso atrelado a si, não vive.

      Eliminar
  3. Eu nunca achei que tivesse bagagem tirando aquela em que realmente a roupa vai, já achei que tinha a bagagem de não ter efectivamente bagagem visível, hoje em dia acho que tenho uma malita de mão...cada um tem as suas coisas...

    Beijos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. PM: Acho que a vida nos ensina a viajar cada vez mais leves... aprendemos isso à nossa custa.

      A tua malinha de mão, traz para a tua vida o que é verdadeiramente essencial, o resto são tretas.

      Beijinho enorme

      Eliminar
  4. Less is more. E até os esquizóides têm estados de alma...e não se falou de carneiradas...mas tem sempre que girar à tua volta, a grande AC.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Anónimo: Não costumo perder tempo a responder a comentários de gente que vem à casa dos outros cuspir para o chão, mas achei que o teu comentário era tão ridículo, tão descabido, burro mesmo, que tive que te responder.

      Este blog caso não te lembres, ou já te tenhas esquecido (Memofante ajuda) chama-se ac-nadadecoisanenhuma, só fala de mesmo de mim, da minha vida seja ela boa ou uma grande merda, e quase sempre o que aqui é dito é nada de coisa nenhuma daí o titulo... é real mesmo.

      Quanto ao resto do que nada disseste, por acaso sou grande, calço 42 e faltam-me só alguns centímetros para os 2 metros de altura. Sou grande o suficiente?

      Agora vê se arranjas uma vida porque a uma sexta feira à noite, com uma noite espectacular para saíres, pinares que nem uma maluca, veres as estrelas à varanda à falta de melhor, véspera de fim de semana, à meia noite e dezanove minutos estares a deixar um comentário vazio num blog só revela mesmo o quanto a tua vida é igual ao comentário que deixaste...

      e não são precisas mais palavras.

      Eliminar
  5. ...libertar-me do que julgava essencial...diz me muito este trecho!
    :D gosto!

    Beijinho

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Casaert: Deixo-te um beijinho, porque é essencial.

      :)))

      Eliminar
  6. Tá arrumadinha a menina :)
    Ainda bem que pensas assim, pois por vezes sinto-me único no mundo, e isso não é necessariamente bom, acredita.
    À minha volta só felicidade e eu, que devo ser um esquisitoide de todo o tamanho, sempre insatisfeito com tudo e com todos... Mas infelizmente ainda não me consegui compartimentar, como tu.

    PS: Dá aos anónimos desta vida o que eles merecem... nada :)

    Bjs

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Son da Mamã: Diz quem me conhece que é uma característica muito minha, ser arrumadinha com a casa, com as minhas coisas, com a minha vida. Eu compartimento tudo, encerro etapas, fases da vida, abro outras, e sobretudo nunca me esqueço do que vivi para não desistir do que ainda quero viver.

      Beijinho*

      Os cães ladram mas a caravana passa... é sempre assim:))

      Eliminar

Diz aí nada ou coisa nenhuma.