segunda-feira, 18 de maio de 2015

Posso pedir uma coisinha? Só uma, é rápido e não dói...






No mesmo dia...

um miúdo de 21 anos, ciclista, que ia na sua vidinha sem fazer mal a ninguém, atropelado, entrou-me no trauma, fracturas múltiplas, as cristas ilíacas enfiadas pela cavidade torácica numa coisa atroz que eu em tantos anos a virar frangos nunca tinha visto, cavidade abdominal desfeita, rotura de vários órgãos internos e de uma víscera oca. Desespero total e impotência geral perante uma situação para a qual todos nós antevimos o fim. Ficou o cansaço, a dor. De todos nós, da namorada e dos pais. 

Logo a seguir... 

ainda não recompostos de uma paragem cardio respiratória e de uma ONR expressa alto e bom som pelo coordenador da equipa médica no Trauma do ciclista, entrou uma vitima baleada numa perseguição policial. A vitima era um traficante, mafioso, líder de um grupo já conhecido e referenciado, com cadastro por pedofilia, pena de prisão cumprida por comportamentos abusivos com crianças e procurado há vários meses pelas autoridades por um crime de sangue com rapto e tortura relacionado com tráfico. Rodeado de aparato policial e medidas de segurança. Protocolo especial de segurança activado. 

E depois de duas paragens cardio respiratórias, e de duas reanimações consecutivas com direito a atropinas intracardiacas, desfibrilhação cardíaca, reanimação cardio pulmonar, 6 unidades de sangue em curso, 4 unidades de plasma, e três Lactatos de Ringer à velocidade da luz, a coisa reverteu, e o mânfio safou-se, e vai ficar por ali para as curvas, para torturar, abusar de crianças, raptar gente, vender droga e claro continuar a fugir à policia assim que tiver oportunidade ou viver à conta dos contribuintes numa qualquer prisão deste país até que consiga fugir.

Gostava de pedir a Deus que não estivesse distraído, e que fosse justo com as suas escolhas, e já agora que não faltasse às aulas de moral e humanidade, e que não assobiasse para o lado quando for a hora de pesar comportamentos porque há coisas que por muito que me esforce (e eu juro que me esforço), eu por muitos anos que viva e por muito que veja, não entendo. E hoje era mesmo só isto.

29 comentários:

  1. Pensar no assunto já revolta, vivê-lo de perto deve dar volta às entranhas ...

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    1. Maria Mac Taus: Todas as profissões comportam um risco e um grau de dificuldade, ter uma profissão em quem todos os dias se fala tu cá tu lá com a morte deixa uma vontade enorme de viver e um enorme prazer nas mais pequenas coisas.

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    1. Jovem Sonhadora: Se é... e falo porque sei do que falo.

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  3. Sem palavras, AC, ontem ia sem vontade para o local habitual de início do passeio, fiz com os meus amigos os habituais 100 km de domingo e cheguei a casa pronto para resolver o arrufo do dia anterior e entrar de peito feito na semana de trabalho :)

    O movimento ciclista, neste momento, atingiu uma dimensão tal que nem as estradas, nem os ciclistas, nem os condutores estão minimamente preparados para uma convivência segura. Creio que há um trabalho urgente a fazer neste campo. Claro que, apesar disso, estas merdas acontecem, veja-se o caso dos peregrinos a pé, há dias :)

    Quanto ao teu segundo caso, pobre do tipo que tem que estar a olhar ao mesmo tempo para tantos cabrões malfeitores e ainda para todos os cruzamentos do mundo.

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    1. Ness: Uma grande cidade tem muitos perigos à espreita para os ciclistas...segundo algumas cabeças parvas a prioridade é sempre de quem anda mais rápido, e depois quem se lixa é o ciclista.

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  4. Para bens
    O teu texto é muito bom. Gostei dessa ideia de mandares o Senhor ás aulas de moral e humanidades
    joaquim

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    1. Joaquim: Eu mandar mando, dar-lhe conselhos também dou... mas ele não me liga nenhuma. Faz só mesmo o que quer.

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  5. Eu li algures uma coisa alegadamente dita por um sobrevivente do Holocausto e que se aplica bem a este caso, salvo erro era assim "Se um dia estiver frente a frente com Deus ele vai ter que me pedir muitas desculpas por isto..."

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    1. PM: Adorei esta tua frase... é uma grande verdade. Acredito mesmo que se um dia Deus pudesse estar frente a frente com uma vitima do Holocausto teria mesmo que lhe pedir muitas desculpas....e eu não sei se desculparia! Porque há coisas que não se desejam a ninguém, nem ninguém merece.

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  6. O melhor é mesmo não te fiares no altíssimo em questões de justiça e moral! Se nem nos seus discípulos mais acesos e acérrimos, podemos confiar quanto mais no patrono da causa!

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    1. L' Enfant Terrible: Fia-te na Virgem e não corras...
      Há coisas que por muito que me esforce não entendo. Salva-se um criminoso, um ser desprezível e morre um miúdo sem ter culpa sequer do que lhe aconteceu? Passou no sitio errado à hora errada, é muito injusto.

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  7. Estou mesmo contente por não teres fechado o blogue. Isto são pérolas, lições de vida, querida AC.
    Junto a minha prece à tua: se Deus existe, que não se distraia.
    Um beijinho e que o resto da semana seja de finais felizes.

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    1. Susana Rodrigues: Deus anda distraído...e desleixado com o trabalho que lhe compete.

      Obrigada pelo teu mimo:)))
      Beijinho*

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  8. O universo consegue ser muito cruel. Alguém devia explicar ao sr. Deus que a vida devia estar associada a um sistema de mérito!

    Beijos

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    1. Canca: Nem mais... devia haver uma avaliação, um somatório de pontos, em que os primeiros escolhidos fossem os que nesta vida só vivem mesmo para fazer mal com gravidade aos outros... isso é que era. Voto nesta matemática da vida.

      Beijo*

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  9. Já somos muitos com a mesma dúvida.
    Deixo-te com a explicação que me foi dada por uma das minhas meninas (aquando da morte de uma criança nossa conhecida, coisa que me deixou irada a ralhar com Ele!). "Mãe, a mãe e o pai do D. ainda são novos, vão puder ter mais filhos. Sabes lá se Deus tentou poupá-los a um desgosto maior? Imagina que o D. crescia, casava tinha filhos...e só depois descobria que tinha uma doença fatal? Já viste o sofrimeto da mulher, dos filhos e dos pais do D. , já viste, perder um filho quando já fossem velhinhos, morriam de desgosto, não iam aguentar?! Ia sofrer muito mais gente horrores, assim Deus resolveu levá-lo cedinho....a tempo de o coração da mãe e do pai cicatrizarem e se Deus quiser ainda serem felizes.
    Não me lembro bem teria ela 12, 13 anitos...sei que fiquei sem fala...não é a primeira vez que os papéis se invertem entre a minha filha mais velha e eu...

    Quanto a Deus...há coisas...que nunca vou entender, mas depois acontecem outras em que sou obrigada a sentir-Lhe e a reconhecer-Lhe a presença, o amor, mas discuto muito com Ele, sou uma zangada permanente:) jinhooooooosssss (cada vez te admiro mais)

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    1. Suricate: A tua filhota é uma miúda com uma sensibilidade enorme. Grandes lições de vida que nos dão os mais novos, mostram-nos verdades por outro ângulo.Olha que a explicação dela sendo difícil de aceitar para uma mãe tem lógica para os outros...

      Também sou uma zangada com ele, nem sempre porque Lhe sou grata por muita coisa, tudo o que tenho e me tem dado que me deixa tão feliz...zangada com o que vejo à minha volta, com o sofrimento. Costumo dizer que para se morrer não devia ser preciso sofrer tanto.

      Beijinho Suri

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  10. A vida é injusta. E eu não acredito em Deus. Mas, se por algum acaso do acaso, eu encontrar Deus... ui, ele ficará surdo com o que terá de ouvir!

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    1. Gata: Se um dia pudesse conversar com ele havia algumas perguntas que lhe gostava de fazer... sobre as injustiças na escolha dele, ou sobre o sofrimento...


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  11. Admira-me que ainda acredite em Deus AC...mas não é uma crítica...somente uma observação. :)

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    1. BC: Com toda a sinceridade te respondo... nem eu mesma sei se acredito ou não. Na maior parte dos dias acho que não acredito, mas depois vejo o nascer do sol, ou um trilho nas montanhas, ou um milagre de vida que julguei ser impossível... e volto a ter dúvidas e a achar que se calhar tanta coisa fantástica só pode ser obra dele.

      Assim sou eu, indecisa, inconformada, expectante...

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  12. AC. Deus está nas pessoas como tu, pessoas que dão o melhor de si, mesmo em situações como a que descreveste, se poderes lê um pequeno texto"pegadas na areia", há duvidas que nos assolapam a todos.

    Bj

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    1. Casaert: Deus somos todos nós. Somos vida, amizade, companhia, trabalho, interajuda, e tantas mais coisas.
      Vou ler sim... deixaste-me cheia de curiosidade.

      Beijinho*

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    2. Casaert: Li o texto. Sempre que as pegadas na areia eram só umas Deus levou-nos ao colo. Será? Comigo acho que sim, Deus tem sido um mãos largas até hoje, não me queixo. Mas pelo que vejo por aí, já vi muita gente ser abandonada à sua sorte sem ter sequer uma mão para segurar quanto mais um colo.

      BJ

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  13. Vejo o mundo de uma outra forma. Não vejo injustiça aqui ou ali. Hoje sei que tudo o que me acontece ou que eu venha saber, ver ou ouvir é para o meu crescimento consciencial. Para que eu escolha ser deixar as coisas externas a mim controlar o meu status emocional e sentimental ou caminhar rumo a maestria e me iluminar paulatinamente ao me tornar mestre de minhas emoções e sentimentos. De uns tempos para cá notei que quanto mais nos libertamos emocionalmente do mundo e nos entregamos ao nosso silêncio interior, encontramos mais e mais de nós mesmos, um lado nosso que não tem medo das coisas, que não se lamenta e que está em paz mesmo que o mundo esteja a desabar e ao observar isso tudo começo notar que esse lado nosso é nosso lado divino que é incapaz de encontrar defeito ou erro no mundo ou nas pessoas pois é justo e amoroso ao extremo. Está bem que nem sempre conseguimos estar conectado com esse nosso lado divino o tempo todo mas noto que quanto mais permanecemos nessa conexão mais e mais a nossa visão do mundo se eleva e, por vezes sentimos ondas energéticas vindas de lugar nenhum e que nos estremece dos pés a cabeça e nesse momento a única coisa que se pode fazer é se alegrar de experimentar um pouco mais de si mesmo.

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    1. Marcos: Não sou crente. A religião é uma coisa que não entendo e não quero entender.
      Sse acredito em algo, talvez. Se tenho de algum modo fé no "Meu Deus" feito à minha medida, criado por mim e respeitado por mim, sim tenho. Mas nada disso é religião, abomino castigos, regras, punições e muito mais coisas a que a religião / religiões obrigam. Fujo disso a sete pés.

      :))

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Diz aí nada ou coisa nenhuma.