quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O gajo do machado...



É saudável rir das coisas mais sinistras da vida, inclusive da morte. O riso é um tónico, um alívio, uma pausa que permite atenuar a dor.
Charlie Chaplin


No primeiro dia de trabalho dou por mim a rir como há muito tempo já não ria. Confesso que já tinha saudades, do espírito de equipa, da amizade, da entreajuda entre nós. Adoro os meus colegas de trabalho, a cumplicidade só nossa nos pequenos gestos disfarçados que dizem tudo, nas trocas de olhares dissimuladas que só nós entendemos, nos silêncios onde tudo se diz sem uma única palavra, ou apenas no levantar de sobrancelhas quando algum de nós diz alto aquilo que não deve.

Hoje o Dr MM foi ao cesto dos socos à procura de uns socos 44, e não encontrou nenhuns completos. Restavam apenas 3 pares de socos que lhe serviam, mas só com pés esquerdos, mas o MM que é um gajo despachado e divertido não se atrapalhou, toca de calçar os dois socos esquerdos e fazer-se à vida. A figura era hilariante parecia um palhaço com as biqueiras das socas com o ângulo ao contrário, e por onde passava toda a gente ingenuamente lhe dizia: Ó Dr. MM tem dois pés esquerdos, ao que ele respondia: acabei de descobrir que por aqui há mais gente com pés direitos que esquerdos, gosto de fazer a diferença.
E lá andou ele as12 horas de banco com dois left feet, e nada raladinho.

Mais tarde...

Recebemos um poli traumatizado por acidente de viação, embate a baixa velocidade, consciente, orientado, com escassas escoriações na face e membros inferiores, e sem lesões graves aparentes, que após realizar exames complementares de diagnóstico, protocolo de rx e tc de cranio, se encontrava deitado na sala de emergência a aguardar observação pela ortopedia e pela cirurgia maxilo-facial. Enquanto os doentes aguardam pelos cirurgiões, nós senta-mo-nos na nossa área de trabalho, observamos o doente, os monitores e falamos claro está... beca beca entre nós... nada de novo pois.

Hoje o tema da conversa era a separação de bens do meu colega Duarte de quem já falei aqui, e que  apanhou a namorada com quem vivia em plena acção de pinanço com outro. O Duarte na altura saiu de casa, da casa que era dele e não trouxe nada... apenas a roupa que tinha vestida e o carro que utilizava. Já passou um ano e gradualmente o Duarte tem tentado reaver aquilo que era dele, desde objectos pessoais, e coisas que comprou fruto do seu trabalho e dos muito turnos que faz.

Dizia o Duarte em conversa inflamada: um dia passo-me da marmita, salto o terraço, entro lá em casa, levo um machado, retraço-lhe a mobília toda e deixo-lhe uma pilha de paus para se aquecer no inverno. De repente quando olhamos para o lado vê-mos o doente nu, semi sentado na maca de olhos esbugalhados a olhar para todos nós, de dedo no ar...Você não faça isso, nem sabe no que se mete, olhe que eu sou juiz e quem o avisa seu amigo é... fica sem mobília e ainda vai preso.

Gargalhada geral....

21 comentários:

  1. NO meio de tanta desgraça há sempre alguma coisa com graça. Mas agora fiquei com "pena" do Duarte, seja lá o que aconteceu, não é justo e há tantos casos assim. :p

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    1. aNaMartins: O Duarte depois da tristeza e da apatia está na fase da revolta..finalmente começa a reagir... e fico contente por o ver finalmente sair da tristeza em que estava.

      Com o tempo vai recuperar...I hope!

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  2. Um amor e uma cabana, não. Um amor e um machado.

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    1. Pulha Garcia: Estórias destas deves tu conhecer aos montes..acredito que em litígios conjugais muito pouco te surpreenda, mas para mim tudo isto é novidade e senão fosse triste, quase que me dava vontade de rir. Acredita!

      Imaginar o Duarte um meia leca de homem com um machado, uiii que riso!

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  3. Mais um post escrito com alma. Gostei muito, fizeste-me rir.

    Escreves tão bem. É muita sensibilidade.

    bjinho e bom regresso

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    1. maria moura: São retratos do meu dia a dia, relatos na primeira pessoa. Escrevo sempre sobre mim, ou sobre o que vejo.

      Obrigada pelo elogio, simpatia a tua.

      Beijinho*

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  4. Vi ontem na televisão que aumentou o número de sinistrados nas estradas portuguesas apesar de, ironicamente, haver agora menos gente a conduzir devido ao aumento do preço dos combustíveis. Naturalmente os condutores pensam que, agora que são menos a conduzir, têm as estradas só para eles, pelo que continuarão a haver sempre mais e mais politraumatizados para vos darem trabalho. Há gente que simplesmente não aprende, nomeadamente os jovens com a carta tirada há pouco tempo. E, sinceramente, dessa gente eu simplesmente não consigo ter pena. Chama-me insensível que eu não me importo.

    Em relação ao teu amigo Duarte, compreendo que deve ser muito difícil assistir ao que assistiu. Mas pelo que me apercebi, não era casado com a chavala, pelo que assim as coisas sempre ficaram mais fáceis. Pegar no machado?? Só se for para cortar a ligação que o ligava à traidora. Se o Duarte sempre foi sincero e deu tudo na relação, então quem ficou a perder foi ela. E assim também não poderemos ter pena dela.

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    1. FireHead: Houve mais acidentes no regresso e inicio de férias por apenas um factor..as pessoas deixaram de circular nas auto-estradas e passaram a circular nas estradas nacionais para pouparem em custos de portagens, e só por esse facto regredimos 10 anos, as estradas nacionais têm muito tráfego de pesados, implicam ter de fazer muitas ultrapassagens, atenção redobrada, diminuição da velocidade, e muitos outros cuidados adicionais que os condutores esqueceram... Ó tempo volta para trás!

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  5. Um Juíz a pedir juizinho...
    Oh, ironia suprema!!! :)

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    1. Eros: A vida é uma constante surpresa, e só prova que nunca sabemos com quem estamos a lidar.

      Serviu de lição a todos.

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  6. LOL, para contrapôr aos que vos morrem nas mãos, este sempre vos arrancou umas valentes gragalhadas eheheh


    (o Duarte que lhe deixe é a casa cheia de bombinhas de mau cheiro...LOL)


    beijos e assim

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    1. francisco: Olha que excelente ideia... ou deixe uns cocós de cão em cada canto da casa... bem cheirosos. ahhhhhh.

      Hummm, Kiko boy tem sentido de humor. E leva a vida na desportiva, já vi.

      Beijos, assim e assado. Ganhei!!! hehehe

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    2. ahahahahahahahaha (pensas que ganhaste, pensas...) :p

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  7. Que bom quando existe esse companheirismo no local de trabalho!

    Beijo

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    1. Utena: Somos muito amigos, ajuda mo nos muito e protege mo nos bem uns aos outros. Somos uma equipa para o melhor e o pior.

      Beijo Ruivinha

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  8. Eu fiz exactamente o mesmo que o Duarte. É um espectáculo comprar roupa nova :p.

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    1. Manuel: O desprezo absoluto é uma arma eficaz. Eu faria exactamente o mesmo, sem dramas, sem peixeiradas, sem discussões..

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  9. Opa, o que eu me ri agora, a sério! Não sei o que foi melhor o do médico com 2 socos do esquerdo, ou o teu amigo e o machado, ou a intervenção do juiz diga-se brutal :) Acho que o melhor foi mesmo as tuas palavras a transmitirem tudo isto :) Ehehehehe

    Beijinhos

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    1. Catarina: Estão sempre a acontecer coisas divertidas ainda hoje tive um doente que se chamava Fode Mané, agora experimenta dizer isto em voz alta e sem te rires...lê-se com sotaque crioulo fudimane

      Beijinhos

      Gosto de te ver regressada e em alta.

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    2. Relacionarmos-nos com os outros, não traz apenas coisas más, neste caso confesso que está a demorar para sarar (porque me agarro muito às pessoas e aquela coisada toda que tu já sabes, e etc etc), mas passam, como diz uma amiga "O que é mau precisa ser diluído no tempo".

      Obrigado por gostares de me ver bem regressada :) Não sei quando retomarei o blogue, mas retomar os comentários com os meus queridos amigos deste pequeno espaço já é um bom começo face ao que eu estava.

      Beijinhos

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    3. Catarina : Put your hands in the air and dance.

      Hands up!!!!


      beijinho* Kat girl

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Diz aí nada ou coisa nenhuma.