A Joana tem 19 anos, é meia destravada, alheada de tudo, importa-se pouco com os estudos, vive para as amigas, as saídas, os gajos que vão aparecendo e que ela curte nas paixões que surgem. Mas é acima de tudo uma miúda gira, de riso fácil e parece-me muito feliz.
Caiu numa escada e entrou na emergência trazida pelo Inem, num plano duro, colar cervical e com o membro superior direito imobilizado numa tala improvisada no local. Está consciente, orientada, muito queixosa, mas acima de tudo muito ansiosa. Vou falando com ela, sou boa conversadora e adoro conhecer um pouco quem cuido e ir brincando com questões óbvias, perguntando-lhe coisas pessoais e tentando de uma assentada distraí-la dos procedimentos e reduzindo-lhe a ansiedade. Após o protocolo de radiogramas em politraumatizados e bipada a ortopedia, chegou-se a uma conclusão.
Uma merda e terrível conclusão... que nos deixa a todos sem palavras, revoltados, e mais uma vez a pensar que a vida é madrasta e fodida...
As dores fortíssimas que tem no braço não são consequência de nenhuma fractura provocada pelo trauma directo da queda, mas sim de um trauma numa zona fragilizada por um osteosarcoma, um temível tumor ósseo que é muito frequente em adultos jovens em idade de crescimento.
Fico sem ar, olho para a Joana que deitada numa maca me falava ainda há pouco dos dois rapazes giros da turma, da sua paixão pelo surf, e da raiva que tem à matemática e à física, ou o medo dos exames nacionais. E como me fez rir em sonoras gargalhadas quando imitou a professora de matemática a resolver exercícios no quadro e a debitar formulas, falando sem parar e sem sequer parar para respirar...
Uma mãe levanta-se de manhã preocupada porque vai perder o autocarro, ou que tem que descongelar bifes para o jantar e depois acaba nas urgências hospitalares com a vida de pernas para o ar, e a cabeça ao contrário. Na vida tudo é relativo, o que de manhã nos parecia um problema complexo e de terrível solução, de tarde adquire a importância do absolutamente ridículo...
Uma merda e terrível conclusão... que nos deixa a todos sem palavras, revoltados, e mais uma vez a pensar que a vida é madrasta e fodida...
As dores fortíssimas que tem no braço não são consequência de nenhuma fractura provocada pelo trauma directo da queda, mas sim de um trauma numa zona fragilizada por um osteosarcoma, um temível tumor ósseo que é muito frequente em adultos jovens em idade de crescimento.
Fico sem ar, olho para a Joana que deitada numa maca me falava ainda há pouco dos dois rapazes giros da turma, da sua paixão pelo surf, e da raiva que tem à matemática e à física, ou o medo dos exames nacionais. E como me fez rir em sonoras gargalhadas quando imitou a professora de matemática a resolver exercícios no quadro e a debitar formulas, falando sem parar e sem sequer parar para respirar...
Uma mãe levanta-se de manhã preocupada porque vai perder o autocarro, ou que tem que descongelar bifes para o jantar e depois acaba nas urgências hospitalares com a vida de pernas para o ar, e a cabeça ao contrário. Na vida tudo é relativo, o que de manhã nos parecia um problema complexo e de terrível solução, de tarde adquire a importância do absolutamente ridículo...
Na vida nem tudo tem verdadeira importância, vamos aprender a relativizar as coisas. Vamos simplificar, ignorar o que é relativo...
É verdade, tudo é relativo na vida... o lado menos bom da vida. Que a Joana melhore rápido...
ResponderEliminarFogo: O ridículo de isto tudo é que o que parecia um grande problema de difícil solução às 9 da manhã passadas umas horas deixou de ter qualquer importância..
EliminarE esta frase de perder o autocarro, ou o que fazer para o jantar foi dita textualmente pela mãe da Joana, não foi imaginada por mim:)
Com tanta neoplasia tinha logo de lhe calhar essa que é tão simpática... A vida é mesmo uma roleta russa :(
ResponderEliminarBeijinho boa semana*
Fonix :( que situação dramática!
ResponderEliminarmaria moura: Injusta..nunca ninguém diga que está bem porque de um momento para o outro a vida dá uma volta:)
EliminarRelativizo cada vez mais as coisas a cada consulta que dou...
ResponderEliminarNão é tão duro como ver de perto aquilo a que assistes, no entanto apercebo-me que tenho de agradecer todos os dias aquilo que tenho.
Grande beijo e se puderes dá um beijinho há joana.
Petra: Esse é o segredo de viver feliz, relativizar os problemas, e viver satisfeito com o que se tem...
EliminarNunca me esqueço que mesmo que ache que me faltam quinhentas coisas, sou uma previlegiada em relação à amioria das pessoas:)
maioria* correcção de erro.
EliminarUm grande beijinho para ti
privilegiada* Upss..uii como isto anda, o meu mal é sono.
EliminarEssa é uma das grandes lições que vida me ensinou: a aprender a relativizar. Pena é que só aprendemos quando a vida nos escolhe a nós para dar o "teste".
ResponderEliminarEspero que a Joana consiga ultrapassar.
Beijo
NI: Também fui aprendendo, muitas vezes à custa de ver todos os dias coisas que me deixem revoltada e sem chão. A vida é injusta, prega-nos partidas que não merecemos, é preciso não valorizar o que é desprezível e que no fundo é quase tudo... só as pessoas importam, e tudo o que a elas diz respeito, o resto é tudo relativo!
EliminarBeijo
Ai que esta história mexeu comigo, é mesmo para dizer que agora estamos bem mas amanhã não sabemos, amanhã é relativo. andamos sempre a valorizar pequenos desacatos quando na verdade não é nada, quando um acidente nos tira tudo.. e sem saúde não somos nada,somos frágeis e impotentes. deve ser duro lidar com situações assim que por ti devem passar diariamente. Força para as Joanas deste país e para os seus cuidadores.
ResponderEliminaraNaMartins: Temos que dar importância apenas ao que é importante. O segredo é relativizar tudo, deixar que a vida aconteça e que por si só vá resolvendo os problemas que vamos tendo. Ela encarrega-se disso:)
EliminarDeixaste-me seca de palavras.
ResponderEliminarA vida é lixada.
Beijo
Dear Daisy: É mesmo...temos que saber contornar as dificuldades e sobreviver, de preferência sem danos colaterais:)
EliminarBeijo* Miss Daisy
Quero passar no teu estaminé e ter tempo para te ler..ainda não consegui.
Não tens um cantinho teu? Fui pesquisar e não encontrei...
EliminarRelavitizar... nada mais importa quando o importante mesmo é o facto dela estar viva, com a possibilidade de continuar a viver a vida. E como ainda é nova, a Joana tem tudo para lutar pela vida.
ResponderEliminarLife is a bitch... but a bitch is a life.
FireHead: Tem tudo para lutar mas é uma batalha perdida. Vai por mim que eu sei.
EliminarVai sofrer que se farta, e a família também.
E mais não digo.
beijinho
A batalha só será perdida quando ela terminar... e estiver definitivamente perdida. Nunca ninguém parte derrotado à partida e enquanto houver espaço para esperança...
EliminarFireHead: Há batalhas perdidas sim.. eu lutar contra o Hulk é uma batalha perdida, uma formiguinha contra um elefante também. Mas a vida é assim...
Eliminarbeijoca Fire boy
*relativizar
ResponderEliminarSabes? Fiquei encolhida por dentro!! :( **
ResponderEliminarMalena: És mãe...mais palavras para quê. Ficaste encolhida porque sabes bem que quando um filho sofre a vida de mãe dá uma volta de 180 graus.
ResponderEliminarEntendo-te tão bem...
Josh Gottam: Verdadinha.. numa frase disseste tudo!
ResponderEliminarLutamos, lutamos e depois...morremos.Muito bom!