Não sei de onde veio a expressão "borrar-se de medo" mas há muito que a conhecia e francamente nunca lhe reconheci grande lógica. É ficção pura, ninguém se borra de medo. Deve ter sido uma coisa criada pela fantasia semelhante às estrelinhas que se vêem nos desenhos animados a sobrevoarem a cabeça sempre que alguém bate fortemente com ela.
Esta sexta feira participei numa aventura /expedição nocturna de descoberta de várias minas abandonadas no interior da serra de Sintra. Minas de água muitas delas, e que correspondem a túneis subterrâneos que atravessam praticamente toda a serra e que serviam como condutas de transporte de agua até depósitos, tanques, cisternas, poços, onde essa agua era armazenada para utilizações futuras. Sabia de antemão o que são túneis e grutas, e o que por lá podia encontrar, quase sempre muitos morcegos - é lá o seu habitat -, ratos de maior ou menor tamanho, lesmas nas paredes, aranhas, e mais um ou outro bicharoco que não cabe nesta lista. Já fiz exploração de algumas grutas de forma superficial e sem grandes riscos, apenas com recurso a cordas e rappel e sempre acompanhada de um guia conhecedor do local, neste dia não era excepção, o mesmo grupo - perto de vinte elementos, e o mesmo guia.
O que eu não esperava encontrar era sapos viscosos de olhos esbugalhados, e sardões, uma espécie de lagartixas, ou osgas, ou o raio, gordas quem nem vacas e com umas patas com unhas que trepavam por todo o lado. Odeio sapos. Odeio toda a espécie de répteis de pele colorida e brilhante. E enquanto algumas pessoas davam gritinhos e saltinhos a mim começou-me a dar umas cólicas brutais na barriga a somar ao terror imenso. Já não sabia o que havia de fazer, se parar e controlar o medo, se parar e controlar as dores de barriga que me deixavam lívida, branca como a cal e a sentir-me mesmo muito mal, ou dar parte de fraca e dizer bem alto para todo o grupo ouvir o que se estava a passar.
Calei-me caladinha, dei cada passo encolhida com medo da catástrofe, ouvia a minha barriga a fazer ruídos estranhos e a tentar ser mais forte que eu. Foram 9 km assim. Dolorosos. E jurei a mim mesma que túneis nunca mais. Gosto de natureza, ar livre e puro, paisagens brutais e até de alturas, agora coisas debaixo do chão não me convidem. Lá me aguentei mas isto podia ter corrido muito mal, ó ó se podia...
Não nasci para rato de esgoto.