segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Bicho papão...




Dos meus medos...

Não sou destemida como aparento ser, nem de ferro, nem aguento tudo como dou a entender, e muito menos sou a fortaleza que os meus colegas de trabalho julgam que sou. Escudo-me atrás de uma carapaça rija que me protege do que não quero que vejam, e muno-me de uma armadura de metal que me defende dos ataques que não quero que me magoem. Nem sempre resulta mas é um bom começo. Prefiro sempre a defesa ao ataque e tenho um bom jogo de cintura nas técnicas de defesa pessoal. Prefiro uma saída de fininho que um ataque feroz. És tão forte, oiço várias vezes, ou vai lá tu que tens coragem para isso (quando é preciso dar más noticias). Nem sempre chega. Ser forte é pouco. Ser valente é que é muito. Trago comigo medos agarrados à pele. Tenho medo de perder, até porque já trago na bagagem um historial de perdas que me pesam no corpo e no trolley que arrasto comigo e que faço por esquecer. Tenho medo da doença, lido com ela diariamente e se há coisa que me mete muito respeito (e medo) é a doença. Estar doente é o pior de todos os males. Já a morte a mim não me assusta, que venha rápido e de forma não dolorosa, agora o sofrimento na doença, ver alguém ir buscar esperança no que está mais que traçado e tem um final que eu conheço bem, deixa-me perdida de medo. Tenho medo da pena e da compaixão. Diz-se que penas têm as galinhas, ter pena de alguém (ou que possam ter de mim) mete-me medo. Ser digna de pena é absolutamente devastador, e porque não, dramático. Tenho medo da rotina, da acomodação e da habituação. Acordar ao lado de alguém dias e dias a fio só porque sim, porque temos um pacto ou um contrato, deitar-me com alguém por obrigação porque a vida não comporta outras escolhas e porque os filhos, a sogra, a mãe, a hipoteca, o gato ou o periquito exigem de mim o que já não me faz feliz mete-me medo. Tenho medo de acordar e adormecer e esquecer-me de viver.Tenho medo que me digam que gostam de mim e que não gostem, ou não gostem assim tanto como eu quero acreditar que sim, porque sou insegura, menina às vezes, porque tenho medo de perder, meio perdida no mundo das certezas dos adultos. Não tenho certezas. Nenhumas. E não dou nada como certo ou garantido e essa é a minha única certeza.

Não tenho medo do escuro, nem de sombras, nem de alminhas, nem do bicho papão, nem sequer de estar sozinha... 
Estes é que são os meus medos.

14 comentários:

  1. Sabes, há anos que tenho um sonho recorrente, em que morro num acidente de automóvel - primeiro o choque e depois o silêncio e a paz, uma imensa paz... No início tinha medo e acordava angustiada, sentia (e sinto) que era uma premonição. Agora, depois de ver sofrer os poucos que eu amo, digo que tal seria uma sorte - uma morte rápida.

    Tal como tu, eu não tenho da morte, eu tenho medo - e muito - é de ter que sofrer para morrer!

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    1. GATA: O que me mete medo é o que antecede a morte... saber que posso sofrer. Qualquer tipo de dor me assusta....

      Esse sonho é muito estranho, realmente. Mas dizem que sonhar com morte é vida longa... por isso não te assustes.

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  2. Tens uma energia maravilhosa, uma guerreira poderosa e isso basta para te distinguires do resto.

    Grande beijinho

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    1. Carmo: E no meio de tudo isso... da energia que de facto tenho, praticamente inesgotável, e da enorme capacidade de lutar... tenho medos. Muito medo de todas estas coisas que me aterrorizam os dias...

      Beijinhooooo enorme

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  3. Esse teu medo, chama-se insegurança.

    Beijo (seguro)! :)

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    1. O Bom Rebelde: Ahhhhhh... não há seguranças nesta vida. Ouvi dizer que nem os seguros são de fiar...

      Sou um bocadinho insegura sim, preciso de nós que me atem em segurança.
      Seguras-me?

      Beijooooo miúdo seguro.

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  4. Esses, são os meus medos, também. Como te compreendo. (eu não teria no entanto a tua coragem, na profissão que tens, e aí sim, és valente sem dúvida) Um beijo AC

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    1. Rainha Ervilha: Nós habituamo-nos a tudo... se tivesses a minha profissão terias que te habituar à morte também, e aprender a lidar com isso... nem imaginas a enorme capacidade de habituação que o ser humano tem...

      Beijinhooooo

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  5. Enfrentar os medos, boa?
    Eu pensei que fosses bem forte (e és), ter medo faz parte é normal....

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    1. SuperSónica: Enfrentar os medos e prosseguir... e nunca deixar de viver por causa dos medos...

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  6. A morte é talvez o maior dos meus medos, desde pequeno que me assusta e por vezes aterroriza. Temo a morte e de sofrer no fim.
    Não tenho medo da solidão, de ter que partir de mala às costas para outras latitudes ou de ter que recomeçar de novo mas morrer...sempre vivi só e o que vier a mais é lucro ;)

    Beijos miúda :P

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    1. PM:Tenho pavor da morte. De sofrer até morrer... da doença. E tenho medo de perder pessoas de quem sinto a falta. A sensação de perda dói-me...
      De resto sou um pouco como tu, não tenho medo da mudança, nem medo do futuro.

      Beijinhoooo Pedrocas

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  7. Como entendo estas tuas palavras... temos uma fortaleza construida nas duzrezas da vida, mas nem sempre chega!!!



    Beijo enorme em TU <3

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    1. Sil Maria: Quando penso que tenho uma fortaleza sopra o vento e leva-me o castelo de cartas... e os sonhos voam com ela.

      Beijoooo gigante em Ti.

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Diz aí nada ou coisa nenhuma.