Podia aqui vir dizer que olhei para ele e acendeu-se uma luz no meu coração, assim tipo um flash de radar quando te esqueces que ele está por lá e passas a alta velocidade, ou podia vir aqui dizer que o facto dele ser muito giro e ter uma cara malandra num corpinho Danone pode ter alterado os factos mudado o rumo dos acontecimentos e influenciado a coisa, ou podia vir aqui dizer que ele é alto, magro e giro que dói e quando está fardado não há uma única alminha fêmea no planeta terra que não fique a olhar especada tipo osga com vontade de lhe escorregar na pele. Podia, claro que podia, mas não foi nada disso. Desejei-o desde o inicio, com muita vontade e muito mais convicção. Porque sim. Porque era aquilo que me apetecia e ele apetecia-me. Não precisava mais explicações. E eu não costumo deixar o que me apetece muito tempo por concretizar. Quis mesmo experimentá-lo na cama, uma e outra vez, e mais umas quantas vezes. Sem falsos pudores. Sem vontade de parar e sem querer interromper o ciclo de "és mesmo tu que eu quero". Meses depois interrogava-me porque continuava a querer, mas continuei a achar que era só uma questão de tempo, ou de ele baixar a guarda, ninguém podia de facto ser tão interessante assim, e um tempinho depois ia-me cansar e fartar da cena ou ele de mim quem sabe... que convêm deixar todas as hipóteses em aberto. Pois mas vá-se lá saber como e porque razão, que eu não sei dissecar motivos, basta-me o porque sim, afinal ele não era só uma cara malandra num corpo Danone, nem espectacularmente bom no que inicialmente me interessava. Revelou-se muito mais que isso, um bom amigo, uma boa companhia, atencioso, meigo, super dedicado comigo, intenso nos nossos jogos, com uma pedalada e um ritmo de partilha e cumplicidade que me desafiava (e desafia) constantemente, divertido, com um sentido de humor que me deixa perdida de riso (imaginem-no a fazer uma dança do varão para mim, todo nuzinho, e eu a rebolar de tanto rir), e acima de tudo alguém que soube aceitar-me cheia de defeitos e soube perdoar-me todas a as minhas falhas e incapacidades. Até a maior de todas, que é uma certa incapacidade para amar formalmente, dentro do limite do que é o amor convencional se é que de facto isso existe mas eu acredito que sim e dentro dos parâmetros das regras onde o amor que dizem à séria, não a brincar como este, se move.... casa a dois, filhos, hipoteca, sogra, supermercado, contas para pagar, irs em conjunto e almoço de domingo em casa dos pais.
Vários anos depois e muitas mais quecas depois o que afinal começou por ser só sexo, pinanço do melhor e uma excelente oportunidade de dar umas voltas e divertir-me à grande, passou do à flor da pele para o coração, invadiu-me o cérebro, a razão, (ou a falta dela) e a sensibilidade que julguei para sempre perdida. Bateu-me tudo aqui no peito, apertou-me o coração e derreteu-me a couraça que julgava impenetrável... fiquei tal e qual uma gaja. Uma mulher sem tirar nem pôr. Eu que queria viver a minha realidade como um homem, sem grandes sentimentos à mistura, sem inseguranças, sem compromissos de espécie nenhuma, muita independência, e afastamento em relação aos contos de fadas e às tretas do coração fui apanhada na teia do amor e na gosma dos beijinhos....
Ra`is partam os sapos...
Ao longe ouvi-o a rir-se.... fiu fiu fiu