PELA METADE

Hoje  alguém me surpreendeu!
No meu local de trabalho, já a noite ia alta e longa, entrou na sala de emergência uma paciente não identificada com feridas múltiplas no abdómen por arma branca.
Mulher nova, discreta, bonita, cabelo castanho bem arranjado ( ar de cabeleireiro), olhos pintados - sombra, risco,  rimel - blusa ensanguentada,  soutien,  mamas grandes,  unhas cuidadas (manicura francesa) e calças de ganga. Começámos a despir a doente, rápido puxa,  rápido tira a blusa, corta as calças de ganga e qual não é o nosso assombro quando de uma tanga minúscula de renda branca sai um penís enoooorme.....
Olhámos uns para os outros,  para a cara da doente,  para o abdómen da doente e ainda  mais abaixo na continuação do abdómen  .....
RAIOS CUM CATANO .......QUE MERDA É ESTA!
Estamos formatados na seguinte lógica só os homens têm adereços e merdas penduradas, as mulheres não.
O mundo certinho, direitinho, que nos é apresentado eclipsou-se dali.
Estranha-se aquela ambiguidade de género, estranha-se que num ser humano a metade superior não corresponda à metade inferior, e que  o seu exterior diga uma coisa e o resto outra.
Faz-me pensar como é possível viver tão duplamente, lidar connosco na versão do Eu inteiro em género e em sexo já é tão complexo quanto mais viver uma vida inteira em dupla metade.

                                                                                         CHIÇA...QUE CANSAÇO...