terça-feira, 31 de maio de 2016

Causa de morte na cama ao lado...




Não sei do que ele morreu. Morreu e pronto. E para morrer segundo dizem parece que basta estar vivo. Constatei o Rigor Mortis. O doente da cama ao lado disse-me que o encontrou assim, rígido, já morto. Duvidei apenas das suas palavras e questionei se de facto não tinha falado, nem mexido a boca ou os olhos. 

Não. Tenho a certeza, acordou morto! 
Não me ri porque a morte não me faz rir. Algumas palavras sim.

Esta vida e mais o diabo a quatro...


Não sei amar. Não acredito no amor. Nunca me vou apaixonar - disse ela.
Ouviram-se gargalhadas...

Era o diabo a rir-se.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Caderno de viagens...








Tanta vida para viver que não cabe no meu caderno de sonhos. Anotações, reedições, rasuras, rabiscos e escritos num impulso, resultado de um momento. Tudo isso e muito mais num fim de semana de natureza e paz. Rodeada de bem estar e amigos. E o suave sabor do amor que me lambe a vida e as feridas numa doce agitação do corpo. O mesmo amor, o mesmo sabor de sempre.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Contabilidade para o fim de semana...




Enquanto houver estrada para andar,
a gente vai continuar.

Jorge Palma

1 fim de semana grande à porta. 5 dias divididos por muitas horas que se querem bem aproveitadas. 12 amigos bem dispostos. 4 carros. 1 mota. várias tendas. 3 PR (Pequenas Rotas) preparadas. mais de 50 quilómetros de trilhos para fazer. subidas e descidas arrojadas pelas arribas. meia dúzia de esbardalhanços previsíveis. jogos para os serões. Rummy, Trivial. imperiais e petiscos ao fim do dia sem contabilizar. praia pela manhã. peixinho fresco acabado de chegar. saladas de tudo, e com tudo. simplicidade. descanso. pausas. calções e chinelos nos pés. bikini. cheirinho a verão mesmo que o céu esteja enevoado. excelente companhia. gente doida e de gargalhada fácil. malta de boca grande e capaz de dizer os maiores disparates. por tudo e por nada. 

impossível não parar de rir mesmo sem razão. 
impossível não abraçar e mimar quem nos faz bem.

a sul. no mar azul. pela 125 azul.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Não trabalho num hospital psiquiátrico mas parece...

Definição de saúde:
Estado de vida temporário que segundo parece só piora e não augura nada de bom.



A minha vida profissional não são só tristezas e cenas de terror. Também tenho momentos non sense de verdadeira comédia. Hoje tive aqui comigo um doente que deveria ter sido comediante, e afirmo com toda a certeza - estava na profissão certa. 

Assim que o chamei e após a triagem quando lhe digo para aguardar novamente na sala de espera pela nova chamada, desta vez para ir aos gabinetes médicos, virou-se para mim e disse:
- Que horror! Vou ter que aguardar ali? Naquela sala de espera?
- Sim. Não temos outra.
- Mas aquela sala de espera está cheia de gente. Gente doente. Só velhos. Vou ter que esperar ali no meio daquela gente toda?
- Sabe, isto aqui é um hospital. Pode não parecer mas é. Há enfermeiros, médicos e doentes. Faz parte. Só devia mesmo haver por aqui gente doente!
- Que chatice, ainda vou apanhar alguma doença.

Pensei que fosse alguma cena para os apanhados. Tive que fazer um esforço para não me rir e de caminho dizer-lhe: É pá andas com umas piadas muita giras!

Noite de mil estrelas...




O que a memória ama, fica eterno.
Te amo com a memória, imperecível.

Adélia Prado



A minha noite foi de mil estrelas. 5 estrelas. Eram tantas as estrelas que se confundiam com as luzes a brilhar. Fecho os olhos e a imagem fica para sempre, para mais tarde recordar.

Guardo tudo...

Não houve pedras no caminho.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Mergulho no mar...





Dá um mergulho no mar
Dá um mergulho sem olhares para trás
Dá um salto no ar
Só para veres do que és capaz.

...

Tens pouco tempo para ser só teu
Não esperes nem deixes passar
Essa vontade que quer - dar um mergulho no mar.

Arrisca mais uma vez
Nem que seja só por arriscar
Nunca se tem muito a perder
Dá um mergulho no mar.

Há tantas coisas por fazer 
E tantas por inventar
Dá um mergulho no mar!

Xutos e Pontapés - Dá um mergulho no Mar


mergulhei profundamente nesse mar, no silêncio do local de onde não quero jamais regressar. mergulho mais e mais fundo com escassos regressos à superfície para oxigenar o cérebro e manter a lucidez possível. tudo é belo. sou imensamente feliz. cada olhar é tudo, cada palavra o todo. afogo-me para sempre?

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Casa onde morar...




Canso-me muito menos, 
divirto-me muito mais,
 e não perco a esperança ao constatar o óbvio: 
tudo é provisório, inclusive nós.


-Martha Medeiros-

Entre sem dilacerar


como quem pede para limpar os pés à porta de casa. Não me sujes o chão do coração, não me arranhes as paredes da casa que sou. Gostava que morasses aqui comigo, cá dentro, do lado esquerdo. Fiz-te a cama, repara. Será que vais gostar da decoração que escolhi?
Estava tudo arrumadinho antes de chegares. Claro que há gavetas onde nem sempre mexo, que têm coisas escondidas e outras que ainda não soube deitar fora, mas de resto tinha tudo num brinquinho. Fiz do meu coração um lar, e foste convidado, por isso mostra-me respeito e apreço: entra sem dilacerar, como quem pede para limpar os pés à porta de casa.

Joana dos Caracoisdaqui

sábado, 14 de maio de 2016

A vida é bela, nós é que damos cabo dela... verdade verdadinha!



Acredito que uma vida sem sonhos é impossível de viver, somos os nossos projectos e o que sonhamos para nós. Quem não tem desejos a concretizar, maiores ou menores objectivos de vida, metas longínquas a percorrer, assusta-me. Não somos todos iguais é um facto, mas viver a vida acreditando nos meus sonhos é o que me move. É a beleza e magia que vejo neles que me faz prosseguir e ser feliz. Não gosto de antecipar com demasiada antecedência a revelação de sonhos, dizem os anjos que dá azar, diz o diabo que toda a gente sabe que se diverte muito a foder tudo - conta lá que me quero entreter a atirar-te tijolos, ou tampas de saneamento, ou vá lá pronto... uns limões para fazeres limonada, ou umas pedras para juntares ao caminho. Acabei de conseguir concretizar mais um sonho. Sonhado há muito. Riscado agorinha mesmo à minha wishlist. Ainda fresquinho de apenas há minutos. A puta de uma loucura que eu queria muito mas não tinha encontrado ainda com quem a partilhar, e obviamente quem a partilhasse comigo porque estas coisas são giras é em reciprocidade. Ainda falta um mês para chegar ao sonho mas se não morrer até lá (o que toda a gente sabe que pode ser muito bem possível) este sonho já cá canta. E que bem me vai saber.

The time will pass anyway, you can either spend it creating the life you want, or spend it living the life you don't want. The choice is yours.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Como foi que disse?




Quando achas que sabes todas as perguntas, vem a vida e muda todas as respostas.


Bob Marley


Não me canso de perguntar. Não me canso de responder ao que julgo que sei, como sei, e consciente do muito pouco que sei. E o que não sei? Pois...
Dou o melhor de mim, faço o melhor que posso, por tentativa e erro, com muitos erros. Rasuro o que escrevi e desaprendo o que aprendi, e no fim acrescento sempre divertida mais perguntas para as quais não sei as respostas.
...

Se objectivo de um piloto Kamikaze era despenhar o avião porque raio de coisa levavam eles capacete? Para proteger a moleirinha do sol?????

Se já todos nós sabemos que o mundo é redondo, porque é que insistimos em querer conhecer os quatro cantos ao mundo?  Estranho!!!

Um gajo nu pode levar um tiro à queima roupa? Acreditem, esta dúvida mata-me!

E zero? Como se escreve em algarismos romanos? Não havia zeros? Nem à esquerda?

Tantas perguntas sem resposta...

quarta-feira, 11 de maio de 2016

terça-feira, 10 de maio de 2016

Este blog que maioritariamente fala de nadadecoisanenhuma, às vezes (muito raramente) fala de coisas com um lado muito sério...


Como sei o que isto é... a propósito de um texto de uma colega de trabalho.

A pressão para vir trabalhar de graça (porque onde trabalho não pagam horas extra). Nem no teu nem em nenhum hospital, as horas ficam em Bolsa numa coisa nova inventada pela gestão hospitalar denominada Bolsa de Compensação que por detrás do nome pomposo traz escondida em letras pequeninas outra informação - horas a gozar quando houver pessoal para isso e o serviço o permitir. O pior é que o serviço nunca permite e ao fim de cada ano essas horas renovam-se e desaparecem como que por magia. Estavam lá para as gozares, não gozaste, problema teu.

A depressão que leva a baixas já relativamente frequentes. A falta de motivação e de reforços positivos. O aumento da emotividade (que muitas vezes nos faz até descarregar em cima dos colegas, que são os que estão mais à mão). O sentimento de impotência (queria transferência e não ma dão porque "não há ninguém" para vir para o meu lugar). Sabes quantos profissionais há na minha unidade com problemas de depressão? Seis pelo menos, (casos conhecidos) seguidos em consulta e medicados. E colegas que se suicidaram? Até agora já foram 4. Há mesmo quem não aguente as dificuldades da falta de sono, a pressão diária a que estamos sujeitos, a morte, e toda a dor a que assistimos impotentes mas sempre com um sorriso de força e uma palavra de esperança no rosto para com os outros.

A vontade de chorar no trabalho. Os ataques de choro no carro e em casa (às vezes começam já no parque de estacionamento do hospital. Ver as folgas como um oásis. (depois passá-las a dormir, exausta, triste como um trapo). A vontade que dá de mandar tudo à merda quando nos pedem ainda projectos extras, e formações adicionais, e actualizações constantes e no fim ainda nos atiram com as obrigatórias certificações de qualidade. Temos que nos manter actualizados, fazer formação continua continuamente, apresentar trabalhos nas sessões cientificas do hospital, posters ou trabalhos em congressos, ser avaliados, cumprir todos os requisitos, e pelo meio aceitar tudo o que nos é imposto sem reclamar. Somos números, somos produtividade, os doentes já não são apenas doentes, são utentes ou clientes, temos gestores de camas, gestores de material e custos, auditorias, avaliações de desempenho.

Estou nas Ilhas, mas a realidade é transversal. Aí, aqui, em Alguidares de baixo ou em Freixo de Espada à Cinta é tudo igual em Portugal.


Somos números, carne para canhão, despojos em socas, com o peso do mundo em cima, agrilhoados na pior prisão de todas... com a doença e a morte ali ao lado.


Nurse Susan


Por todo este esforço, e para quem pensa que grande responsabilidade, abnegação e vocação são bem pagas. A realidade é esta...

A remuneração / hora é de 6.50. E mais 25% do valor hora aos sábados, 50% do valor hora aos Domingos e Feriados - Natal e Fim do Ano incluídos. (dão qualquer coisa como mais 26 euros por turno (3.25 euros à hora, vezes 8 horas de trabalho) ao qual vão ter ainda que deduzir todos os impostos à taxa em vigor, como tal o resultado é pouco mais do que 20 euros por prescindirmos obrigados de estarmos em família, com amigos, de vermos os filhos abrir os presentes, enfim com os nossos. No meu caso que sou enfermeira graduada com vinte anos de serviço e uma pós-graduação, a remuneração é 8.50 à hora. Há dez anos que temos as carreiras congeladas e há dez anos que não temos qualquer aumento de ordenado, nem uma décima percentual. Há 3 anos que fazemos mais 5 horas semanais, 20 horas por mês que perfazem 240 horas anuais sem receber mais um cêntimo. Se precisam de pessoal que paguem as horas a mais, nada contra.

E sim já me aconteceu vir no caminho para o hospital e os joelhos tremerem-me de tal forma que batiam no volante, e é entrar no hospital para fazer um turno e não saber se vou ter que seguir horário e a que horas vou sair, é ter coisas combinadas e ter vida para além do trabalho e ter que desistir de tudo porque tenho que cumprir mais do que devia porque assim mo exigem. É sentir medo de perder o emprego. É a pressão todos os dias. É ter medo de falhar. É calar muita coisa porque assim é preciso. É contar até dez e respirar fundo. É fechar os olhos e fingir que não vejo. É dizer siga à falta de condições de trabalho, ao material que não presta, e a tudo o que não posso mudar. É obedecer sem querer saber as razões.

E é de facto tanta coisa...

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Coisas minhas e quero lá saber...



Quando era pequena e pela primeira vez me perguntaram o que queria ser quando fosse grande, respondi com o meu ar mais sério que queria ser Artista de Circo, tentaram confirmar com nova pergunta como se eu não soubesse muito bem o que aquilo era. Mas sabes bem o que isso é? É andar com a casa às costas, viver numa autocaravana toda a vida, andar de terra em terra sem ter tempo para criar raízes, estar longe de tudo e da tua família, é sobretudo uma vida dura despojada de quase tudo. Queres mesmo ser Artista de Circo? Sim disse eu, e durante anos foi mesmo o que quis. Depois mais tarde comecei a perceber que não tinha jeito para Contorcionista, nem Malabarista e muito menos Trapezista, por isso percebi que o meu forte nunca seria nada ligado à ginástica e depressa substituí o desejo de vida pelas artes circenses pela vontade de voar e o mesmo sentido de eterna saltimbanca, quis ser Assistente de Bordo, na altura Hospedeira. Dizia a mãe tentando demover-me da ideia, que Assistente de Bordo era assim uma coisa entre empregada de café e camareira e que não havia muito glamour na coisa. Mas eu queria porque chegar e partir atraía-me (e continua a atrair), e uma casa, um lugar apenas e uma vida fixa ao chão não me diziam nada. 

Não fui uma coisa nem outra, segui a mesma profissão da minha mãe, um pouco pela influência dela mas também porque depressa percebi que era mesmo o que queria, e que tinha vontade e capacidade para a desempenhar. Adquiri os conhecimentos necessários e cá estou eu presa ao chão, com raízes num lugar sem grandes chances de mudar, sem hipótese de ser Artista de Circo, Assistente de Bordo, viajante de profissão, caravanista de longo curso, mochileira de vida. Este sonho continua cá, não desisti dele, à primeira oportunidade vou investir nele. Não sabemos o dia de amanhã, posso arranjar um gajo rico (mesmo rico) e aventureiro como eu que me financie os sonhos, pode-me sair o euromilhões, posso achar petróleo no jardim da casa dos meus pais, posso encontrar um tesouro no fundo do mar enquanto faço mergulho, posso tropeçar numa mala cheia de dinheiro enquanto subo a rampa do hospital para mais um dia de trabalho, posso receber uma doação / herança de uma velhinha rica que tenha passado pelos meus cuidados, sei lá... a minha imaginação é fértil mas a verdade é que o sonho continua cá e até ao lavar dos cestos ainda é vindima, muita coisa pode acontecer. 

Ou nada, e tudo ficará como está.

domingo, 8 de maio de 2016

Rotinas...


Etc...
Viver é etecetera.

Guimarães da Rosa


Como sabe bem voltar às mesmas rotinas de sempre. Aos mesmos lugares onde já se foi feliz, aos mesmos finais de tarde cheios de sol, aos meus e nossos eteceteras, ao regresso a casa depois de um dia cheio e em cheio.

...

 Tanta estrada para andar. E a estrada da vida volta a surpreender-me.
Tenho as malas feitas. Vamos para onde?

sábado, 7 de maio de 2016

O leão e a gazela...




Todas as manhãs em África a gazela acorda. 
Ela sabe que precisa correr mais rápido que o mais rápido dos leões se quiser sobreviver.
Todas as manhãs em África um leão acorda. 
Ele sabe que precisa correr mais rápido que a mais lenta das gazelas senão morrerá de fome.


Não importa se és um leão ou uma gazela. Quando o sol nasce é bom que comeces a correr.

Provérbio Africano


Levo a vida a correr. Deito-me tarde, quando me deito - a semana passada estive de serviço 3 noites em 5 dias - levanto-me cedo, e não desisto de assim que acordo começar a correr para fugir dos leões. Gosto muito desta coisa a que alguns chamam prazer pela vida. Pelos vistos tenho corrido rápido e sobrevivido mas sinto um cansaço tremendo. Demasiado. Preciso de sol, de me deitar na savana sem medo do que pode vir a seguir e relaxar. Abrandar o ritmo e sentir-me confiante. Preciso urgentemente de estabelecer um acordo tácito, olhos nos olhos com o Rei da Selva e coordenador dos leões, de que vai haver tréguas e que ninguém do grupo dos predadores me vai filar de surra, o jogo é limpo, as corridas em campo aberto e as forças equivalentes. Pois...

Toda a gente sabe que os leões são impulsivos e imprevisíveis e nenhum é de confiança. Não continues a correr não que já foste.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Nós...



nós
éramos sem começo, sem meio, sem fim, sem solução, sem motivo.

Tati Bernardi

E sem razão.

Onde anda a razão? A minha razão e a razão disto tudo? Ficaram algures pelo caminho perdidas eu sei lá bem onde, e eu bem que as procuro mas não as encontro. Sigo por aí, sem destino aparente, sem saber muito bem para onde vou, e se quero lá chegar. Estou feliz... Sem nenhuma razão.